quinta-feira, 6 de outubro de 2011

O RUÍDO DOS INOCENTES

Tenho-os visto e ouvido por aí, circulando em bandos, pelas bandas das Avenidas Novas, em alegre e ruidosa algazarra, como se o seu reino fosse a despreocupação, o seu motivo, a festa, a sua esperança, um horizonte longínquo, tão longínquo quanto desnecessário de antecipar, a sua filosofia, o dia, o dia e a noite, de preferência mergulhado em copos, não os copos da dor e do esquecimento, mas os da extroversão e do riso.

Aflige-me vê-los enrolados em camadas de roupa preta e grossa, mas isso é por causa do calor que abrasa por este Outono dentro, tanto contra o meu gosto e resistência.
Vislumbro neles a inocência, uma certa forma de inocência, ou será antes ingenuidade ou distracção ou falta de discernimento ou outra coisa qualquer ou nada disto ou, mesmo, o seu oposto?
Será que não se apercebem de quanto à rasca o País está? De quão à rasca irão encontrar-se na sobremesa dos canudos, a acreditar no corolário que os factos impõem?
Enfim, olho para eles com uma certa sombra, que é de apreensão pelo futuro, mas também de censura, por me parecerem revelar tão pouca consciência cívica – confesso, embora sabendo que isto cai mal e que, talvez e no mínimo, serei considerada demasiado exigente.
Então, há dias, a algazarra ressoa através dos vidros da janela, levando-me a abri-la e a espreitar.
São eles, as Meninas e os Meninos em preto afogados – e, seguramente, afogueados -, embora, desta vez, com um azul sobreposto, que se organizam em cortejo, a caminho de um qualquer destino.
Corro a apanhar a câmara fotográfica, disposta a captar o momento – o momento do seu contentamento, do seu intervalo lúdico e, quem sabe se lúcido – e eis que eles me captam, improvisando, de imediato, uma afinada serenata, acompanhada de palmas: menina estás à janela, com o teu cabelo ao vento, com o teu cabelo ao vento, menina estás à janela, men …
Vou disparando a câmara, no meio de sorrisos, enquanto a sombra com que os olho – olhava – se esfuma no nevoeiro da conciliação e o meu reino passa a ser o seu reino, seja ele qual for. Who cares?
Afinal o que eu, verdadeiramente, quero é que a Vida lhes depare muitas oportunidades e que eles as saibam agarrar, com o sentido de urgência, a competência, a generosidade e a alegria com que agarraram a minha ida à janela.



Felicidades para todos os Estudantes deste País!
E que, pelo caminho, não deixem de criar a necessária consciência cívica, para conseguirem inverter a síndrome geração à rasca.

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