domingo, 28 de julho de 2013

SÁNDOR MÁRAI

Estranhamente (parece quase um sinal de iliteracia...), só há pouco tempo soube da existência do escritor Sándor Márai, tendo, de imediato,  nascido em mim o desejo de ir ao seu encontro.
Alguns dias volvidos, em digressão pela Bertrand do CCB, vi-me, acidentalmente, perante a sua obra As velas ardem até ao fim, que, de imediato, comprei e cuja leitura acabei ontem à noite, aliás, hoje de madrugada.
Apesar do (óbvio) reconhecimento de estar perante uma magnífica escrita e um pensamento profundo, não aderi de imediato, sobretudo pelo carácter datado e pelo figurino tipo peça de teatro, aspectos que não aprecio particularmente.  
Todavia, à medida que a história progredia, adensando-se e deixando-se adivinhar, o meu interesse e envolvimento (quase comunhão) venceram qualquer espécie de reserva e a adesão revelou-se total.
Não pela história em si (de amizades desiguais e de traições está o mundo cheio!), mas pelo pretexto que ela constitui para uma tão magistral quão profunda análise da natureza humana, em vários dos relacionamentos interpessoais em que se manifesta - da amizade ao amor - e na diversidade de sentimentos, emoções e, mesmo, racionalizações, que comporta.
O diálogo entre os amigos, no indispensável reencontro, decorridos cerca de 40 anos do facto fulcral - embora, porventura, não o essencial - é qualquer coisa de arrebatador.
Aliás, tratar-se-á, verdadeiramente, dum diálogo? Note-se que as interacções de Kónrad são, praticamente, gestuais, monossilábicas e contadíssimas, por contraste com o  longuíssimo (e tão apaixonado quanto racional) discurso do General, mais parecendo um monólogo. Todavia, a intervenção daquele não resulta de menor peso do que a deste, quanto mais não seja, porque sublinha o respectivo discurso, conferindo-lhe veracidade e consistência. Como se se tratasse dum eco, qual testemunha, tornando desnecessária a explicitação de respostas. Por outro lado, apesar de morta, Krisztina não deixa de estar presente, tão presente e tão eloquente, na presença da sua ausência, que dispensa resposta à última pergunta, a pergunta definitiva. E assim pode descansar em paz, como as cinzas do seu diário e a cera consumida das velas ardidas até ao fim (mas isto já sou eu a imaginar).
Finalmente, quem vier a beneficiar do empréstimo deste meu livro (entendo que os livros se fizeram para circular), irá deparar-se com uma intrusão, porventura, desagradável, a dos imensos sublinhados que por lá deixei, testemunhos de identificação com os pensamentos que o Autor tão eloquentemente soube exprimir (no encontro deste tipo de fusão reside, justamente, um dos motivos da minha paixão pela leitura).
A capa e alguns dos meus sublinhados:
  
       


2 comentários:

  1. tb já o li há uns anos e gostei muito Vai valer a pena um di voltar a lê-lo

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  2. É, de facto, um livro maravilhoso, Alexandra!

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