terça-feira, 13 de agosto de 2013

MENOS MAIAS! MAIS MAIAS!

 
 
Há dias, na sequência da iniciativa Eça Agora, promovida pelo semanário Expresso - www.ecaagora.com - abordei, nesta sede, em post intitulado MAIS MAIAS!, a continuação do José Luís Peixoto, Depois de tudo, antes de alguma coisa.
 
Lidos, entretanto, os três textos seguintes, achei interessante repetir o exercício, até por saber a inquietação com que os inúmeros leitores e comentadores deste sensacional e imperdível blog, aguardam a minha, seguramente, relevantíssima opinião, sem a qual, aliás, nem saberiam o que pensar! (É claro que estou a gozar, okey?! É apenas para autodeslumbramento e para exercitar os neurónios, não venha aí o Sr. Alzheimer fazer-me uma visita e eu nem dar por isso).
 
José Eduardo Agualusa, com Tudo o que é chama, não chamou em mim nada parecido com admiração ou aplauso. Não que o considere um mau escritor, mas por me parecer que, com este texto, se espalhou um bocadinho ao comprido.
 
Efectivamente, numa 1ª parte, remeteu-se aos domínios do seu imaginário habitual - que, como tal é interessante, mas, convenhamos, nada tem a ver com Os Maias. Seguidamente, tentou apanhar o comboio queirosiano, mas este já tinha ficado estacionado em África, naquela "Angola livre e independente", diante da qual, como fez alguém vaticinar, "Portugal se ajoelhará (...) para implorar um pedaço de pão" (in pp. 78/79). Está bem, nós sabemos do apelo à invasão espanhola (nos Maias) ...
 
Em acentuado contraste (relativamente ao anterior), José Rentes de Carvalhonosso óptimo escritor holandês, produziu O Rio somos nós,  um texto estupendo, de grande qualidade estilística e seriedade literária, em que o tom da análise sociopolítica e a abordagem psicológica dos personagens (Carlos da Maia e João da Ega, em plena decadência) se revelam de assinalável força e coerência. A isto se junta dado peso dramático que, segundo julgo, o distancia dos Maias, mas também não era suposto isto ser uma reprodução divinatória do que teria escrito Eça de Queirós em continuação de si próprio. De resto, nem tal seria desejável. Acho eu.
 
De notar, em contrapartida, um intencional afastamento do pensamento de Eça, no tocante ao respectivo estereotipo feminino (aspecto que, como mulher, não podia eximir-me a salientar e felicitar): "Olhando em frente, Ega corria os dedos pela face, involuntariamente forçado a seguir a memória que, agora cruamente fiel, lhe desenrolava cenas, rostos, a frivolidade das paixões que julgara sentir, a mesquinhez dos seus amores, o jeito cruel de ferir e abusar, pouco mais vendo na mulher que um ser inferior e instrumento de gozo." (in p. 44)
 
Interessantíssima chamada de atenção para o facto de, apesar de todo o seu modernismo e avanço, Eça de Queirós não ter vencido todos os preconceitos e, dentro deles, um dos mais ilógicos e infundados, o da inferioridade feminina.
 
Segue-se Mário Zambujal, com O imenso pulo de Carlos da Maia, texto simplesmente delicioso e divertidíssimo, em que encontrou um campo perfeito para articular a sua (evidente)  obsessão temática - infinita variação de amores malandros, por assim dizer - com uma fresca e fértil imaginação (como demonstra, v.g., o episódio da hipotética repetição do incesto), tudo muito bem ambientado ao ambiente queirosiano, todavia, sem confusão identitária. Caso para dizer que fiquei com vontade de voltar a ler MZ.
 
 
 
 
  

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