sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

TALENTO



Seja lá isso o que for, pior do que não tê-lo é tê-lo e não o exercer! E, por agora, é tudo, esgotou-se-me o talento.
 
 
aqui a seguir é, apenas, uma tela em branco
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

NATUREZA MORTA


Pareço uma natureza morta, aqui desabada sobre a pele camel do sofá - não haverá outra palavra para sofá, pergunto-me, mas não me detenho na pesquisa, quero continuar, afinal, ontem ou talvez já hoje, na hora da transição, o texto brotou tão nítido, tão corrido, melhor seria impossível -, embora pele camel fosse o outro, o que precedeu, mas irreleva, o tom de pele irreleva, desnecessário dar vida a uma natureza morta, procurar ambiente para ressaltar a falta de brilho, a desistência. Detesto naturezas mortas, aliás, bem vistas as coisas, nem consigo entender o que são naturezas mortas, porque se chama natureza morta a um possível molho de bróculos e cenouras e uma galinha esganada, amanhados sobre a tábua duma mesa de cozinha, por exemplo, desde que devidamente aprisionados numa tela ou embrulhados numa folha de papel Canson, aguarela, acrílico, óleo ou o que calhar. Por isso detesto parecer uma natureza morta, mas, tantas primaveras abandonadas, outras tantas assassinadas, outras prometidas por cumprir, horizontes de inverno, outonos intermédios e verões desassossegados, como poderia parecer outra coisa, hoje, sim, refiro-me a hoje, amanhã posso parecer outra coisa qualquer, sobretudo uma natureza viva, o oposto duma natureza morta, por definição, embora não perceba o conceito, também não, se a prisão na tela ou no papel Canson e o material de rotulagem, aguarela, acrílico, óleo ou o que calhar, são os mesmos, e se não há garras para rasgar, a tela ou o papel Canson, e dar um salto monumental, daí para longe do camel ou do branco, agora é branco, e qualquer coisa que não seja isto, uma natureza esta.
   
Achas que pareço o quê, uma natureza morta? Cheguei a casa meio cansado, quer dizer, completamente exausto, e esbarrei ao pé de ti, no sofá de todos-os-dias, quer dizer de todas-as-noites, e imaginei-me assim, um pato assassinado, rodeado de maçãs, uvas e ameixas, carpideiras fingidas, tudo muito bem atado numa tela presa por barras de carvão e pastéis vários à mistura. Vá, responde-me, sai da tua tela e responde-me.
 
Que não, não estou presa numa tela, nem sequer numa folha de papel Canson, adianto já, quando chegaste e esbarraste ao pé de mim, percebi que não parecia isso, uma natureza morta, aliás, nem sei o que é uma natureza morta, não percebo, e digo-te mais, se algum dia estive presa num daqueles meios ou noutro qualquer, não cheguei a criar as rotinas da prisão, puxei das minhas garras, rasguei paredes de linho ou de papel ou do que fosse e. Aliás, detesto naturezas mortas, tudo muito sério e arrumadinho, sobre madeiras de cozinha ou bandejas metálicas, com brilhos de mordomo ou dona-de-casa, uma toalha de renda ou um pano aos quadrados, maçãs parvas, rosadas, envergonhadas, peras maduras, picadas de ferrugem, coelhos de orelhas espetadas numa agonia post-mortem, tentativas de reprodução de vidas colhidas, decepadas, assassinadas. Quero lá saber de naturezas mortas! Hoje é manhã e, embora prefira a noite, vou já começar a antecipar. Se quiseres, não venhas, se não deixa-te estar. Assim, como acabas de ouvir, não foi engano, a nuance. Estou no ir.
 
Então vai, estou no ficar.
 
 
 
 
 
      

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A EVIDÊNCIA DO ÓBVIO


a evidência do óbvio nega que um triângulo possa ser quadrado
 
e isso não me convém
 
a evidência do óbvio nega que um rio possa ser pedra brilho
 
e isso não me convém
 
a evidência do óbvio nega a possibilidade de eu me ultrapassar para lá do arco esticado dos 180º
 
e isso, sobretudo isso, não me convém
 
e nega muito do muito pouco em que acredito
 
e também não me convém
 
e nega a possibilidade da asa do pássaro de fogo

e da tangência do seu sonho
 
e isso não me convém
 
a mim convém-me que:
 
o branco seja a soma de todas as cores
 
o preto, a absoluta ausência de cor
 
e a inexistência do cinzento
 
assim, qualquer destas é do domínio da minha conveniência
 
 
 

 


 
 
 
 
 
 


domingo, 23 de fevereiro de 2014

POR UM CHOCOLATE!


Era fanática por chocolates, o seu cérebro esperava, ansiosamente, aquele momento em que, iniciada a degustação,  bracinhos castanhos e mornos o percorriam, cálidos afagos de serotonina e multiplicados  brilhos de sinapses redentoras. Obviamente, as ancas (e não só) protestavam, até porque os bracinhos, cumpridos os afagos, desciam para descansar, instalavam-se e já não queriam sair de lá, das ancas (e não só), entenda-se.
Mas a vida mudou-lhe, até as ancas se esvaíram, na penúria a que, por razões aqui alheias, se viu diminuída, ao ponto de ter ido viver para debaixo dum viaduto, também podia ser uma ponte, mas isso seria demasiado vulgar, muito lugar comum.
Por vezes sonhava com o sabor do chocolate perdido, aquela textura a derreter-se-lhe na boca, o cérebro entusiasmado e agradecido, e, como era um sonho bom, as ancas (e não só) ficavam do lado de fora. Se calhasse pesadelo, que os tinha, e muitos, lá apareciam elas (e não só) a fazer descer abruptamente os níveis de serotonina e o fulgor das sinapses.
Naquele dia ou noite - aquilo de viver sob o viaduto já não lhe permitia distinguir - sonhou o sonho bom, mas, quando a luz invadiu, forte, atravessando as cortinas de betão, podendo ser do sol ou dos faróis dum carro a acelerar, acordou, os olhos ainda levitavam na doçura, mas a boca soube-lhe a falta de chocolate e as mãos crispavam-se sobre o estômago, como quem tenta separar as paredes unidas pela fome.
De regresso às órbitas vazias, os olhos avivaram-se numa decisão, a que o cérebro esteve longe de ser alheio, é hoje, é hoje que temos de comer um chocolate, um grande chocolate, um chocolate até à distância do impossível!
Com gesto rápido, afastou o edredom de pedra miúda,  ergueu-se determinada, lavou-se num charco das últimas chuvas e pôs-se a caminho, sobre os sapatos meio corroídos, obra de ratazanas vizinhas, talvez para elas solas velhas tivessem o sabor do chocolate ou talvez não. O vestido descosia-se num dos lados da cintura e o cabelo erguia-se em reboliço, ignorante da data da última lavagem. Caminhou com a desenvoltura de quem vai sempre em frente, porque sabe bem onde se dirigir. Ao fim de três horas, chegou. Recordava-se bem daquela loja, só chocolates, prateleiras e prateleiras cobertas de deliciosos chocolates, meninas aperaltadas atrás dos três balcões, derretendo-se em sorrisos para os clientes. Até que a viram, fecharam os dentes e deixaram cair olhos estupefactos sobre a sua magra e improvável figura. Não se importou, também não com os olhos e as bocas assarapantadas dos clientes, iguais aos das meninas atrás dos balcões. Percorreu as prateleiras com a antecipação da delícia e foi apanhando um aqui, outro ali, como quem se dá ao luxo de poder escolher, deixando a suspensão reinar em seu redor, sem sequer se aperceber de que uma das vendedoras tinha accionado um botão secreto. Encheu o saco meio esboroado e, qual troféu, ergueu na mão o maior dos chocolates, dirigindo-se à porta, tão calma e determinada quanto entrara.
Então, tudo sucedeu num repente, justamente no limiar da saída, cruzou-se na pressa desaustinada dum polícia armado, e tudo ficou claro, era o chocolate contra a arma, hesitação impossível, depois restava-lhe correr, o chocolate voou de encontro à testa do polícia, um desequilíbrio foi causado, para trás, de encontro à ombreira da porta, o homem escorregou, bateu com o cotovelo armado em qualquer coisa e a arma disparou, furando-lhe o queixo, que se expandiu num fogo de artifício de lascas de  dentes, chispas vermelhas e bolinhas de mioleira, numa cena que o próprio Quentin Tarantino  não teria ousado desprezar. Ah! só um parêntesis para dizer que não sei se é tecnicamente possível, o disparo naquelas circunstâncias, quer dizer, com aquele percurso.
Ora, uma coisa é roubar chocolates outra, bem diferente, é  provocar, mesmo acidentalmente, o desnascimento dum semelhante, sabe-se lá se também amante de chocolates, doçura cúmplice. Em vez de fugir, apiedou-se, ela, a Ana Rosa, isso, vamos dar-lhe um nome bem foleiro, a condizer com o não abrigo do viaduto, antes disso, chamava-se Francisca, apenas. Ajoelhou-se, desprendeu-lhe a arma dos dedos já flácidos, não fosse disparar outra vez e ampliar a mortandade, e amparou-lhe a papa da cabeça, como se assim lhe pudesse restituir o nascimento, enquanto uma lágrima caía sobre o estardalhaço à volta, após deslizar, triste e compassiva, pelo seu rosto frágil, como a do menino da pintura de qualquer casa de velharias que se preze.
Mais dois polícias encorparam na proximidade das suas costas derreadas e, com a indubitabilidade dos dedos de todos os outros, vendedoras e clientes, estendidos na sua direcção, foi ela, levantaram-na rudemente e deram-lhe voz de prisão. 
De nada lhe valeu protestar inocência, as suas impressões digitais ficaram impregnadas na arma acidental, apesar do ranho variado que se lhe tinha colado, proveniente daquela cabeça esventrada - aproveita, Tarantino, se te apraz! E, é claro, os dedos acusadores nunca se rebaixaram à verdade ou sequer à dúvida, pelo menos até ao termo do julgamento, rápido, por sinal, e definitivo, na sua douta conclusão: culpada, homicídio voluntário no mais elevado grau, agravado por isto e por aquilo, já para não falar no roubo dos chocolates e, pior, na desfaçatez com que foi perpetrado. Sentença: pena de morte! Ah!, isto passou-se nos Estados Unidos da América, tinha-me esquecido de dizer.
Recolhida à cela, após o conhecimento da sentença, estava muito zangada com a vida e, em manifesta reacção contra a injustiça, que sempre lhe custara aguentar, resolveu fingir que as coisas tinham sucedido como descrito e concluído nos autos, riscou na parede vazia, até mato por um chocolate!
Os dias dilataram-se com a serotonina em baixa e as sinapses retardadas, até que chegou o dia, o da execução, carcereiros entraram-lhe pela cela e, com saracoteios de simpatia tardia, anunciaram-lhe a iminência da última refeição - ia dizer ceia, mas não caía lá muito bem, já está tomada - disponibilizando-lhe um naipe de escolhas a que nunca tivera acesso, nem na sua longínqua vida de simplesmente Francisca. Mas ela sempre achara estúpida aquela ideia, facilitar um banquete a um morto antecipado, como se barriga aconchegada fosse capaz de exorcizar o medo daquela proximidade desconhecida e definitiva, se calhar a ideia é apenas juntarem um castigo colateral, pensou. Fechou-se num mutismo de costas voltadas e não se dignou responder, não ia ceder à estupidez, nem por um chocolate. E eles, vá lá, Ana Rosa, diz o que queres, podes escolher o que quiseres, talvez uma degustação de chocolates, e riram à socapa, para as costas dela, já tinham cumprido a sua parte de saracoteios. 
Impotentes no cumprimento da sua missão e receosos da correspondente descida na classificação de serviço ou negação duma muito eventual promoção, retiraram-se e foram falar com o padre, o encarregado das absolvições finais.
Então, filha, faz um esforço, reconcilia-te com o mundo antes da partida, não sejas orgulhosa, e ela a pensar, grande parvalhão, só me faltava cá este, enquanto concentrava o pensamento na idealização dum lado-de-lá povoado de rechonchudos anjinhos de chocolate, transportando-a por mornas nuvens de açúcar glacé - não sei se é isto, não percebo nada de culinária -, deixando-se comer sem reservas.
Foi aí que o padre tirou qualquer coisa de sob a batina - será que ainda se usa? - e, estendendo-lha numa iluminação radiosa, lhe disse, filha, aqui tens um tablet de chocolate, come! E era mesmo, um tablet, não uma tablette, de chocolate. Bem, era quadrado e tinha os vários símbolos dos verdadeiros tablets, Google, gmail, facebook e por aí fora. O orgulho era muito, mas a tentação foi maior, Ana Rosa agarrou-se à oferta e começou a clicar que nem uma louca e, a cada novo clique, saía um quadradinho de chocolate, que se apressava a devorar.
Quando do tablet já só restava nada, escorregou as omoplatas na parede, enquanto os olhos deambulavam num sorriso longínquo, como só um reforço de serotonina e uma aceleração de sinapses pode provocar. Gentilmente, o padre cerrou-lhe as pálpebras e aconchegou-lhe os braços no regaço, já não estavam hirtos como naquela manhã, nunca viria a saber que o último quadradinho do tablet tinha sido recheado de cianeto e que o padre estava muito contente por ter cumprido a boa acção do dia.
Alergia a chocolate, só pode, foi a sua resposta à estupefacta interrogação dos carcereiros, regressados para cumprirem o resto das formalidades. Aceitaram a explicação, afinal um padre não tem necessidade de inventar nem está autorizado a mentir! Lembraram-se, então, do colega assassinado - por um chocolate, mas isso ignoravam - e um deles, por entre uma risada histérica, escreveu ao lado da frase de Ana Rosa, morta por um chocolate!  
 
Nota: Dar o devido desconto, s.f.f.. Isto foi escrito sob o efeito de privação de chocolate e dum pico de febre!
 
(Pormenor duma mesa deliciosa, uma vez, no Centro Cultural de Cascais, pena eu não estar incluída na lista de convidados)
 
 
 
 
 
 
      

sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

NEURÓNIOS GRÁTIS

E agora como é, perguntas-me. Bem gostaria de te poder responder, mas não sei o quê, ignoro a substância da tua pergunta, massacrada que estou pela sua forma, sempre a mesma, abrupta, saliente, barulhenta, garra nos meus ouvidos, como quem quer extrair, à força, uns quantos neurónios. Se calhar é isso, desesperas-te por que te entregue uma parte dos meus neurónios, espero que não todos, seria de mais, como poderia depois responder-te (?). Verdadeiramente não sei o que perguntas, menos ainda o que pretendes por resposta, está bom de ver, corolário, simples corolário, embora de lógica o nosso diálogo nada tenha, nem sequer diálogo, se não entendo o que... já disse. Queres ser mais explícito, ao menos queres deixar de te arrevesar na tautologia das palavras com ponto de interrogação? Podias mudar, uma vez, só uma vez, trocar por um ponto de exclamação, um que me reflectisse, espelho glorioso, um espanto genuíno e comovedor, uma admiração sem limites, qualquer coisa a ver com esses estados magistrais em que apetece oferecer neurónios grátis. Mas não, insistes. E eu sem saber. Nem sei porquê, a razão de continuar a ouvir-te. Hesito, desligo as orelhas, desligo-me, desligo-nos, como se pudesse falar por ti, mas não, tu só perguntas, insistes, sempre em círculo, e eu sem saber nada, como te responder, o que te responder, sequer a resposta que procuras, muito menos a que teria para te dar, na hipótese de. E, então, perguntas-me, é isso que tens para me responder?  
 
 
 
 
 
 


segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A QUESTÃO DO TEMPO

 
Fragmento do meu mais recente projecto de escrita: 

"Entretanto, dei comigo a repensar a questão do tempo, se existe verdadeiramente distinção entre o passado (que já passou), o futuro (que a Deus pertence) e o presente. Penso na concepção dos filósofos gregos do estoicismo, nos pensamentos alternativos ou não sei como lhes chamar, que pululam por aí, em prol do serenamento das almas demolidas pela crueza de vidas tristes, deprimentes e desesperançosas, procurando ocupar o lugar das religiões falidas, senão fazer-se passar por outras religiões, de anunciadas novas eras.
Afinal, talvez não seja bem assim, talvez seja o presente, essa promessa de âncora redentora, porque instantânea –ainda não é passado, mas ainda não é futuro –, que não existe, afogado que está na iminência de, simultaneamente, se transformar em passado e ser engolido pelo futuro, caso em que o tempo não tem dimensão fragmentada, mas una e nula, não do tipo daquela lógica de divisão certinha, passado-presente-futuro, que os explicadores de tudo pretendem atribuir-lhe, para sossego ou desassossego dos mortais, conforme a intenção e o objectivo, ou seja, o lucro.
Há momentos ou milimétricas fracções do passado que nos atingem com o carácter das impressões mais nítidas, vívidas e profundas, ainda que, na linguagem da memória, aquela por que nos surgem, se nos apresentem, ao menos em termos objectivos, como meramente acidentais e insignificantes, uma conversa banal, a luminosidade dum certo ponto dum certo dia, um cheiro, uma sensação dada, sobretudo isto, uma sensação, a força duma alegria, angústia, tanto faz. Como podemos negá-las, na sua actualidade lúcida, nítida e pungente, fotográfica? Em contrapartida, muitas vezes, talvez as mais das vezes, o presente não é mais do que um saco sem boca e sem fundo, tal a desatenção e a pressa com que se esvai no passado e se abre ao futuro. Quanto a este, o futuro, será que existe o futuro, se se não converte em passado, derrapando por um muito eventual presente?
Do passado vêm marcas tão sólidas e que, simultaneamente, se vem a concluir terem sido presságios, senão mesmo fragmentos, do futuro, que é impossível ignorá-las, nessa obsessão redutora e artificial que é pretender isolar o tempo, fechá-lo numa hipotética caixinha de presente, qual caixinha quadriculada para medicamentos a horas certas."
 
 
Nota: fotografia duma obra em exposição no Centro Cultural de Cascais. 
 
 
 

sábado, 15 de fevereiro de 2014

SIAMESAS DESARTICULADAS


isto está bravo
para este lado
o lado da emoção

saiu à rua, pôs-se a arejar
armada em boa
fechou-se em casa, tipo amuada
deitou-se à estrada, destrambelhada
voltou a casa, muito atinada
chamou a outra, toma lá conta, dá-me um descanso
que me canso, nestas andanças

e a outra, ora, já te conheço, já me conheces
não me intrometo, já lá vai tempo

ok., está bem, mas não me lembro

pudera, estavas fugida, por essa altura

fugida? afugentada, dominada, crucificada

poderá ser
e eu com isso?
raio de coisa, parece sina
nascemos juntas, juntas crescemos
floresci, bem convencida, nem que existias sabia

mas irrompi,quase dei cabo de ti, remember?

é bem verdade, lá nisso acertas
então porque me despertas, chamas por mim
gritas ajuda e esquecimento?

é bem verdade, lá nisso acertas, mas o que queres
estamos juntas, condenadas, atadas, geminadas

isto está bravo
para este lado
o lado da razão

saiu à rua, bem açaimada
voltou para casa, arreliada
chamou a outra, malcriada
ralhou com ela, desaustinada
comporta-te, não sejas aparvalhada

e a outra, já sem saber o que fazer
ali ficou, prostrada, interrogada, amargurada

vá-se lá perceber
destino ingrato
de siamesas desarticuladas







quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

O DIREITO AO AMOR


Houve um tempo em que se determinou, é proibido proibir

Não sei se é ou deve ser proibido proibir

Não serei eu a quebrar o grito do slogan

Quem sou eu para proibir, seja o que for ou a quem

ainda que quisesse, mas nem isso
 
Excepto a mim, a mim, sim...

Isso sim, devia proibir-me de me proibir
 
Mas não é disso aqui
 
Aqui do que se trata é que deveria ser proibido consentir
 
Que se construíssem crianças sem a fusão do amor
 
por capricho, descuido, rotina, obrigação, acidente, dever de ofício ou violência
 
Que se recebessem crianças sem os olhos da ternura e da aceitação sem reservas
 
Que se educassem crianças sem esmero e entusiasmo
 
Que se transmitisse às crianças a atrapalhação e o medo
 
Em vez da liberdade, da ousadia e da acção
 
PORQUE O AMOR É FUNDAMENTAL
 
E, embora óbvio, nunca é de mais proclamá-lo
 
 
O RECÉM-NASCIDO FELIZ
 
 
 
 


segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O MEC TEM RAZÃO!


Esclarecimento prévio: a propósito do dia dos namorados, algumas Livrarias  promoveram um passatempo, que consiste em escrever uma declaração de amor, sendo os prémios, obviamente, livros. Por graça, resolvi participar no  da Chiado Editora -https://pt-pt.facebook.com/ChiadoEditora -, mas só após  o trabalho feito consultei o regulamento, constatando, então, que o limite de palavras é de 30. Que fazer, reduzir as cerca de 230 produzidas? Não. Desistir do passatempo e publicar aqui. Está aí a seguir. Só outra coisa, sabem como os espanhóis chamam ao dia (comercial) dos namorados? Dia do Corte Inglés. Bem visto, não?    
 
DECLARAÇÃO DE AMOR
(complicadinha)
 
O amor não se presume, não se espera, não se adia.
O amor acontece. Pura e simplesmente, o amor acontece.
E, quando acontece, quando calha a sorte de acontecer, não convém que se guarde, que se adie, que se negue, porque o amor tem o seu tempo de anúncio e de proclamação.
Sim, o amor deve ser proclamado, deve trocar-se com o sujeito de destino. Se não para que serve, para ferver um coração desperdiçado?
É claro que sim, todos sabemos, o amor pode ser rejeitado, mas como sabê-lo, se não foi comunicado?  Que adianta fechá-lo, negar-lhe hipótese, trucidá-lo?
Está bem, o amor não se trucida, nem um amor rejeitado, sobretudo um amor rejeitado. Um amor rejeitado, quando muito, trucida-nos, ferve-nos o coração desperdiçado. E não é isso, também, o que nos faz um amor não proclamado?
Então por que razão não declará-lo?
É isto, é apenas isto que tenho para te dizer, hoje.
Ah! E anuncio-te o meu amor. Levo-te o meu coração inteiro, consegui decapitar-me, deixei a razão de lado, ao menos pelo tempo de saber se andas a adiar o amor ou se o tens fechado.
Depois logo se vê, sempre posso voltar a implantar a cabeça, para já fico à espera, não do teu amor, que o amor não se espera, mas da tua declaração, se o teu amor aconteceu por mim. Ou se não. 
Fico muito pequena, muito reduzida, enquanto a espera. Diz-me depressa, sim?






sábado, 8 de fevereiro de 2014

OS ÓSCARES DA NAÇÃO

 
QUER DIZER, OS TOTÓS!
 
Então é assim, estava  eu (aliás, ainda estou) com uma inesperada gripe, com este tempo, não dá para acreditar, desatei a desatinar coisas estrambólicas, susceptíveis de me desviarem dos pensamentos enviesados que costumam acometer-me sempre que sou obrigada a fazer ou não fazer qualquer coisa contra vontade, no caso, ficar presa em casa a beber muitos líquidos, engolir antibióticos e xaropes e, sobretudo, estupidificar, por inacção imposta, inacção não é mau, mas só quando desejada ou depois de morta, aí convém.
Cinéfila como sou, dei comigo a pensar na proximidade dos ÓSCARES DA ACADEMIA, em como gostava de, uma vez na vida, assistir à cerimónia, devidamente escoltada, por exemplo, pelo Colin Firth, pelo Ryan Gosling ou pelo Jack Nicholson, quando, impactada pelo irrealismo da divagação (a bem dizer, é mais invenção, estou a inventar um prelúdio, para criar clima ao que segue, nada que não possa subsumir-se ao conceito de escrita criativa, acho).
Desci, então, à realidade e, perante a inexistência duma verdadeira indústria cinematográfica nacional, imaginei que, ainda assim, poderia organizar-se, com as devidas adaptações, uma atribuição de ÓSCARES DA ACADEMIA aos nossos amados políticos, mas com um nome diferente, a saber, TOTÓS DA NAÇÃO. Uma espécie de bem merecido reconhecimento pelos maravilhosos filmes que eles fazem o favor de produzir, realizar e protagonizar. Eles e outros, entenda-se.
Apesar de ter pensado muito, ainda não encontrei o Billy Crystal nacional, talvez o Júlio Isidro sirva, também não é bonito, mas tem muita prática de apresentações, consta (ainda será vivo?); quanto aos filmes, a dificuldade situou-se, apenas, ao nível da escolha, tantas foram as nomeações.
Então, está na hora, de anunciar,
OS TOTÓS DA NAÇÃO VÃO PARA
TCHARAM... 

  • Melhor filme mudo e sem acção: NÃO COMENTO, NÃO ACTUO, LOGO NÃO EXISTO, produção, realização e interpretação de Aníbal Cavaco Silva, também conhecido por holograma do PR;
  • Melhor thriller movie: ESTE PAÍS NÃO É PARA VELHOS, NEM PARA NOVOS, NEM PARA PORTUGUESES, produção, Luso-Germano-UE-FMI, realização, TROIKA, assistente de realização, Pedro Passos Coelho;
  • Melhor filme dramático e de acção: O TALENTOSO MISTER PORTAS, produção, realização e interpretação de Paulo Portas; Alto patrocínio dos Mercados. Assistente de iluminação, Pedro Passos Coelho;
  • Melhor comédia romântica: APANHEI-TE, IRREVOGAVELMENTE, PEDRO! (sequela do anterior, mesmos créditos);
  • Melhor filme de zombies: O MORTO-VIVO FINOU-SE, produção, bases do PS, realização, ninguém, interpretação, António José Seguro, aplausos, António Costa,  risos, Pedro Passos Coelho e expectativas, Paulo Portas;
  • Melhor filme desengonçado: A HIDRA - SÓ COM DUAS CABEÇAS NÃO VAMOS LÁ, produção e realização, BE, interpretação, João Semedo e Catarina Martins.
  • Melhor filme musical: AS GALERIAS SÃO NOSSAS, produção, PCP-CGTP e outros, realização, Arménio Carlos, interpretação, um grupo de cidadãos, banda sonora, Grândola, Vila Morena;
  • Melhor  filme 3ª idade: MANIFESTEM-SE: É AGORA OU NUNCA MAIS!, produção, realização e diálogos, Arménio Carlos; interpretação, reformados e pensionistas; banda sonora, O Povo Unido Jamais Será vencido
  • Melhor filme de agro-pecuária: CRISTAS DE GALO NÃO FAZEM MILAGRES, produção e realização, Governo, sob o alto patrocínio de Paulo Portas, interpretação de Assunção Cristas;
  • Melhor filme psicológico: A MULHER QUE SE CHAMAVA GASPAR, produção e realização do Governo, interpretação, Maria Luís Albuquerque, visualização à distância, Gasparzinho
  • Melhor filme estrangeiro: A BACIA JÁ SELOU, À VOSSA PERNA AQUI ESTOU!, produção, realização e interpretação, Angela Merkel, 1º assistente de realização, Pedro Passos Coelho
  • Melhor documentário sobre arte (categoria especial): MIREI E JÁ NÃO ESTAVAM LÁ, produção, realização e interpretação, Governo, sob o alto patrocínio do Gang do BPN, actriz secundária, Christie,s, actor  mais que secundário, Joan Miró.
Se não tiveram o privilégio de ver estes magníficos filmes (duvido!), não desesperem, outros se lhes seguirão, de idêntica ou superior craveira, para não falar na realidade que, essa, supera em muito a ficção!
Por falar nisso, vou ali ver se os medicamentos têm efeitos secundários... 
 
 
 
 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

RELÓGIO DE DALI


Era fim de tarde, vento de tombar, chegaste a casa, escorregaste pelo sofá como um relógio de Dali, não abriste a boca, nem boa tarde, apesar de me perguntares. Perguntaste-me com os olhos e eu sem saber o quê, o que querias saber de mim, talvez fosse só através de mim o que querias saber, talvez já soubesses a resposta.
 
O teu corpo amolecido, quase derretendo, contaminando o sofá. Perguntei-me, será cansaço, inércia, negação. Depois ocorreu-me, hesitação. Não encontrei resposta, desisti de perguntar, de qualquer das formas, a resposta nunca poderia sair de dentro de mim, só posso responder pelas minhas respostas.
 
Já me afastava e tu, espera, precisamos de falar. Não por palavras, apenas pela agitação dos olhos. Parecem de veludo, os teus olhos, mas mesmo de veludo é a tua voz. Gosto de ouvir a tua voz, embora tenha medo da tua voz, da atracção da tua voz, da recusa da tua voz.
 
Hesitei, imperceptível esvoaçar de meia lua, permaneceste, não era hora de palavras, talvez, arrepiaste a pergunta ou seriam perguntas(?), muitas duma vez só, totais, dogmáticas, afirmações, afinal seriam afirmações, talvez só pretendesses confirmar ou que eu confirmasse. Mas o quê? Os meus olhos perguntavam, agora eram os meus olhos, e desviaste os teus. Fixaste a ponta dos sapatos, como poderia ter sido a janela, o écran vazio da TV, uma cadeira.
 
Fixei-me no longe, dei meia volta, nada perguntar, nada declarar, assim me queres, assim me tens. Não é o meu caso, mas estou cansada de esperas. Sabes, não se trata duma desistência, não é desinteresse, apenas inquietação, não me convém esta inquietação, preciso de me sentir resolvida, simples cansaço. Extremo cansaço. Se me sentasse agora a teu lado iria parecer um relógio de Dali, embora não pelas mesmas razões por que pareces um relógio de Dali, assim esparramado, estas desconheço, não tenho obrigação de adivinhar.
 
Está bem, é agora, dou meia volta, vou-me embora, já devia ter ido. Onde vais? - abres os olhos para perguntar, enquanto desembaraças o nó da gravata, fica-te bem, essa gravata.   
 
Estou do lado de lá da porta de casa, desço as escadas, desço comigo até ao fundo de mim, estou partida, não chegaste a perguntar. Não é hora, não será hora, essa hora estagnou, presa no mecanismo derretido dum relógio de DALI.
 
 
 

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

A MALDIÇÃO DA GAIVOTA


 
Acordou num sobressalto, piscou os olhos insistentemente, fixou-se na distância próxima e viu o mar, desdobrando-se ao seu encontro em amenas e escorregadias ondas, apenas um murmúrio.
Só então se apercebeu da sua situação e figura, sentado nas costas duma duna, vestindo calças de pijama, o azul escuro com quadrados brancos, casaco de smoking amarrotado sobre camisa aberta, desgovernada, como se uma luta ou um desespero a tivessem atacado, do laço já nem vestígios, sim, o laço requerido pela parte de cima do traje.
Antes do tormento das necessárias interrogações, pensou, pareço um palhaço, enquanto acrescentava ao inventário da indumentária os ossudos pés descalços.
As interrogações urgiram no imediato, o que faço aqui? o que faço aqui neste estado? O que terá acontecido? Porque não me lembro de nada, excepto de quem sou?
Impôs-se o desespero da ignorância e desatou a puxar pela cabeça, o empenho de toda a sua força, precisava de respostas, claras e urgentes, antes que desse em doido. Tanto puxou que a cabeça se desprendeu do pescoço, soltou-se das mãos artífices e rebolou pela areia, pálpebras e boca cerradas, evitamento de intrusões alheias, até desaguar na orla do mar, para onde foi recolhida com a ajuda duma onda apressada.
Simultaneamente, uma gaivota pousara no surpreendido pescoço, era a primeira vez que se via sem cabeça, prendeu-o com férreos dedos e elevou-o, não sem esforço, esvoaçando para sobre o mar.
Da cabeça resgatada pela onda, encarregou-se um peixe curioso, levando-a até às profundezas, onde a depositou sobre um colchão de vegetação, exibindo-a, orgulhoso, aos seus pares, reunidos em admiração à volta do achado.
Por essa altura, várias gaivotas disputavam o corpo transportado pela outra e o frenesim foi tanto que, em menos dum minuto, o corpo era largado, aterrando no mar, onde rapidamente se submergiu, indo parar de encontro à sua cabeça solta.
Os peixes curiosos agitaram-se em sustos e interrogações, até que perceberam a relação entre uma coisa e a outra, quer dizer, identificaram aquilo que conheciam como o corpo dum dos seus predadores. Todavia, após debate, deram o benefício da dúvida, juntaram cuidadosamente a cabeça ao corpo, servindo-se duma reserva de espinhas com as quais teceram uma espécie de colar de união, introduziram uns golinhos de ar para dentro da boca do corpo e, mal este deu acordo, disseram-lhe, vamos libertar-te, mas tens de prometer que demoverás os teus iguais de nos darem caça, quer dizer, pesca. O ressuscitado, mal acreditando na sorte, apressou-se a dizer que sim e a pedir pressa. Então, os peixes uniram-se numa escada até à beira do mar, por onde ele subiu, arrastando-se, depois, para o areal, onde, finalmente, recuperou o fôlego, a natureza e a identidade, mas não a memória do que o levara até à duna.
Afastou-se do mar, já lhe chegava de água por uma eternidade, não sem se ter cruzado com dois pescadores, que, de olhos perdidos, esperavam o destino dos peixes gulosos. Passou por eles e nada disse, apenas se lembrou que tinha fome, imaginando a delícia duma dourada ao sal. Deslizou a mão sobre o colar de espinhas que lhe picava o pescoço, lembrou-se da sua promessa aos peixes salvadores, mas não se importou.
Caminhou mais uns passos, agora mais apressados, acabara de se lembrar que tinha deixado o carro por perto, e foi surpreendido por um bando de gaivotas esfomeadas que, cheirando, à distância, o seu colar de espinhas, o confundiram com um peixe, lançando-se sobre ele numa fúria devoradora, de que nada restou a não ser uma manga do casaco de smoking. 
Entretanto, na agonia do afogamento na areia, o peixe curioso presenciava a cena, até que, numa derradeira contorção, abriu os olhos e as guelras pela última vez, talvez pensando um pensamento final.
 
João acordou estapafúrdio e não, não dormira numa duna. Precisou dum bom duche e dum forte café para se lembrar do que tinha andado a fazer. Só então passou a mão pelo pescoço para se certificar... Não fosse dar-se o caso...
 
 
 
 


terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O AMANTE BIPOLAR


Desenganem-se que não é nada do que estão a pensar, ok?
 
Mas podem continuar a ler, quanto mais não seja para justa dilatação das estatísticas aqui do orablogo-oranão. Com mais não conto, visto já ter assimilado, resignadamente, o facto de não deixarem comentários ou, sequer, accionarem a recomendação no Google, coisa simples, aliás. Temos pena!
 
Refiro-me, naturalmente, ao PSI 20, esse fenómeno que me invade diariamente, em regra, via TSF, para me por a par do seu comportamento anormal, que só consigo associar ao dum amante (também serve namorado ou marido) bipolar.
 
Amante bipolar é aquele que ora está muito bem com a amante (namorada ou cônjuge, vai dar ao mesmo) ora não,  por favor, não confundir com ora blogar, ora não, são outras circunstâncias. Ora aparece e a invade de palavras e gestos maravilhosos, o que inclui, por exemplo, mas, obviamente, não só (nem obrigatório nem mais importante), ofertas de chocolates Godiva, perfumes Estée Lauder  ou vestidinhos vintage, ora desaparece ou, pior, aparece só para irritar, olhando-a criticamente ou, pior, olhando apreciativamente para outras, encerrando-se em mutismo ou disparatando por dá cá aquela palha (sempre é preferível ao mutismo, quanto mais não seja, por dar hipótese de retribuição adequada, quer dizer, exercício do direito de resposta).
 
Assim se comporta o PSI 20, com as devidas adaptações, está claro, nomeadamente, o facto de ter várias amantes ao mesmo tempo, não que isso não possa (ou até não costume) acontecer no caso dos amantes (namorados ou maridos) reais. Então, o PSI 20 ora põe as amantes nos píncaros da valorização, ora lhes retira o tapete, num enjoo ou zanga sem explicação aparente e de resultados ameaçadoramente imprevisíveis. E o facto é que as suas amantes (diferentemente das amantes, namoradas ou cônjuges reais, quero crer, embora só possa falar por mim) se sujeitam a esta bipolaridade, sem tugir nem mugir, alegrando-se com as fases de alta e aguardando, serena e resignadamente, que as outras passem depressa.
 
Não é que eu tenha alguma coisa a ver com as vidas do PSI 20 e das suas amantes, aliás, a vida alheia não me interessa nem nunca me interessou rigorosamente nada.
 
A questão é que, como disse acima, o PSI 20 vem todos os dias ter comigo e ando cá desconfiada que, duma maneira ou doutra, acaba por se imiscuir na minha vida, não fosse a maior parte das suas amantes da família financeira. Hei de estudar melhor este aspecto, por agora apenas pretendi registar a bipolaridade do PSI 20.
 
 
 
 
 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

AO CUIDADO DE...


...Governo, Empresas Prestadoras/Gestoras de Serviços de Interesse Económico Geral (SIEG), Seguradoras, Agências de Viagens, etc.

Atendendo, nomeadamente, a que
 
  • De há uns tempos a esta parte, os sucessivos recibos atinentes ao meu rendimento mensal vêm registando, com uma regularidade de fazer inveja ao mais exímio Rolex, sucessivas e preocupantes quebras;
  • Em contrapartida, os custos de subsistência básica, v.g., com os indispensáveis SIEG (água, electricidade, gás, transportes...) e outros luxos a que caí na asneira de me habituar, tipo, alimentar-me, vestir-me, ir ao médico e comprar medicamentos, quando absolutamente necessário, etc.;
  • Padeço, também, do infeliz hábito de pagar as minhas contas, incluindo as inesperadas, como, recentemente, foi o caso duma geringonça para o limpa pára- brisas, cujo custo ascendeu a vários fins de semana refastelada num belo hotel debruçado sobre o mar, ao que acresce, no imediato, a iminente subida das quotas do condomínio, agregada à ameaçadora promessa de mais uma factura extra para obras de não sei de quê, acho que de reparação do telhado, que, pelos vistos, anda a meter água (não é só ele, a gente sabe!);
  • Caí, igualmente, na asneira de contrair certos hábitos culturais (como comprar livros, bilhetes de cinema e de outros espectáculos, viajar...), desnecessários, é certo, mas que, uma vez adquiridos, custa muito largar, qual efeito cocaína (esta ou outra do género, não, nunca experimentei, tive medo);
  • Não sou banqueira e, como tal, não posso beneficiar da ajuda (forçada, é certo) dos meus concidadãos, acrescida dos dividendos (que não revertem para compensação daquela ajuda, vá-se lá saber porquê!);
  • Apesar de me chamar bluegirl, não sou girl das hostes do governo em exercício, nem, aliás, de qualquer outro, não beneficiando, consequentemente, das pertinentes benesses;
  • Infelizmente, não integro o lado certo das alegres estatísticas coveiras da crise, essa extinta, e, concretamente, talvez por defeito de realismo (por certo, apenas baseado na minha periclitante realidade), não me identifico com a  euforia dos estratosféricos índices de confiança do consumidor;
 
Venho ... ah! já nem sei ao que venho!
 
Peço desculpa pelo precioso tempo que lhes tomei e ... ah! já não sei que mais.
 
Prontos, foi só um desabafo inconsequente, prova de que estas coisas fazem mossa. Paciência.