segunda-feira, 7 de abril de 2014

ALMALFAZEMA

 
Mas a paisagem era tão bela e longínqua como as alturas para onde a tua alma se evadia, a tua alma desprendida, sem horizontes por limite, sem destinos marcados por fronteira. Tudo era dum azul difuso, esfumado em nuvens leves e transparentes, podendo uma cor ser transparente, como nessas distâncias podia. Aliás, tudo era possível, para essa tua alma vadia, vagabunda, subtil, etérea, desvinculada, livre. Uma alma que não prestava contas, não necessitava prestar contas, qual mar em seus alvoroços ou calmarias, qual vento em seus segredos ou gritos, que ninguém domina nem é da natureza das coisas dominar. Essa tua alma era tão alta, tão luz, tão leve, e, todavia, tu.
 
Tu eras outra coisa, aliás, na interposição do espírito, da emoção e da mente, realidades outras, descolavas da lonjura da tua alma, planavas baixo, um rumo certo, é bem verdade, mas não isento de colisões, sobretudo contigo, poor thing, amarguravas-te e espalhavas amargura à volta.

No entanto, não se podem negar as alturas e a pureza da tua alma de alfazema.

Lembrei-me disto, desta parte de ti, tão comovente, ao ouvir uma canção, mas não me lembro qual, só que, enquanto a ouvia, não parava de pensar em ti. É quanto basta, para um encontro de almas - pensei.







 

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