segunda-feira, 7 de abril de 2014

PERGUNTAS-ME?

 
Se me lembro? Como poderia não lembrar?
Era de Primavera, vestias o teu pulôver azul escuro sobre a camisa de quadrados miúdos, azuis e brancos, e tiveste de o tirar, pois o calor invadiu. As calças eram as de sempre, jeans coçados, e uns sapatos que não me lembro, sobre umas meias que também não.
Abri a porta, porque antecipei os teus passos, conhecia os teus passos de cor, esperava o som dos teus passos como se a música mais dançável - e eu adorava dançar! Quase te assustaste, embora não fosses dado a sustos, no repente de mim à tua frente, quando te preparavas para tocar à campainha, coisa desnecessária, porque a minha espera ansiosa, alegre e atenta a tornou desnecessária.
E eu, como é que eu estava, no meu exterior, lembras-te?
Também me lembro de mim, do meu exterior, o cabelo escorrido da água do duche e não sei mais. É pouco, para uma descrição, melhor, uma lembrança, mas é preciso não esquecer que estávamos na Primavera, um sol descarado, afastando as últimas chuvas sem cerimónia, flores amarelas a rebentar por tudo quanto era palmo de terra, corações aos saltos, pura sintonia com a exacerbação da natureza desadormecida e galopante.
Dizes-me que não foi por causa do calor que tiraste o pulôver? Dizes-me que todo o meu corpo escorria da água do duche?
Talvez tenhas razão, afinal era de Primavera e a natureza explodia assim, feita arco prometido e caminho conquistado, e o mundo era nosso, inteiramente nosso, e havíamos de o queimar, com gosto e sede, até aos píncaros do Verão.
Ainda nem sonhávamos das cinzas do Outono, quanto mais dos mantos frios do Inverno.
Todavia, hoje é de Primavera, outra, e perguntas-me...
Perguntas-me?
 
 
 
 
 

Sem comentários:

Enviar um comentário