quarta-feira, 10 de setembro de 2014

ANTÓNIO VERSUS ANTÓNIO E VICE-VERSA

 
Hoje resolvi interromper a minha greve televisiva - que, com muito esporádicas e contadas quebras, já deve durar aí há um ano, com os inerentes benefícios, pois claro - para assistir ao frente-a-frente ou debate ou lá como se chamam estes episódios, entre o secretário-geral do PS e candidato a candidato (?) a próximo futuro primeiro ministro, António José Seguro, e o, também PS,  Presidente da Câmara Municipal de Lisboa e candidato a candidato (?) a próximo futuro primeiro ministro, António Costa.
Antes de prosseguir não resisto a partilhar uma dúvida que acaba de me assaltar: então se eles obtiverem igual número de votos nessa candidatura a candidato a ... (por aí fora), como será? Vão a penaltis, para o desempate, ou vamos ter dois candidatos àquilo, a concorrer com os dos outros partidos? E depois, se o partido deles ganhar, vamos ter de gramar dois primeiros ministros ou governam por turnos? Bem, melhor arrumar estas dúvidas e prosseguir.
Parece que a época dos debates entre ambos abriu ontem, mas, como tive um jantar de aniversário e não deu para ver, hoje a curiosidade apertou, não permitindo desculpas nem adiamentos, e pronto, o comando da televisão voltou ao activo. Ainda bem que as respectivas pilhas ainda não tinham agonizado em baba, afinal devem ser alcalinas, será isso?
Devo confessar que a razão de tão mórbida curiosidade era encontrar fundamento para sustentar a minha resposta espontânea à maioria dos mortais que conheço e que gostam de louvar a superioridade do Costa, como se isso fosse uma evidência a toda a prova. À falta de argumentos, invocam sempre o carisma do dito.
Impunha-se-me descobrir onde residia o tal carisma, pois, quanto ao facto de o Seguro ser um choninhas, esse, sim, afigura-se-me cristalinamente evidente.
Portanto, segui o acontecimento com grande atenção, pretendendo não deixar passar nada, para, afinal, confirmar aquilo que já suspeitava e que é o seguinte: entre um e o outro, venha o diabo e escolha (se não for demasiado incómodo para o diabo e achar que vale a pena)! As palavras de ambos são tão estafadas que qualquer Portas ou Passos Coelho estariam à altura de as proferir, como, aliás, não deixam de fazer, quando a circunstância requerer. Sim, porque aquilo foram só palavras, as ideias ficaram estacionadas em qualquer base neuronal remota, se é que existe.  Bem, não estou a ser justa, para além de palavras também invocaram (ou remeteram para) documentos, só que não lhes fixei os nomes, mas estou em crer que não faz diferença, pois o Costa desmascarou a falta de originalidade do documento do Seguro e este não sei o quê sobre o documento (seria programa?) daquele.
Eu sei, devia ter vergonha por ter prestado tão pouca atenção à conversa entre os Toninhos, mas, verdadeiramente, estive mais interessada em captar sinais. Neste ponto, tenho de confessar - não sem o orgulhoso tributo à infalibilidade do meu 6º sentido, está bem, guiado pela atenção a certos factos mais ou menos óbvios, alguns até demasiado óbvios e ... grandes, como os buracos da cidade de Lisboa -  que confirmei, em absoluto, as minhas ideias, a saber, o Costa tem tanto substracto como o Seguro e nenhum dos dois possui tal coisa (sendo, também, o que sucede com o ainda primeiro ministro, deverei concluir tratar-se duma questão geracional?  Não, não pode ser, para além de que detesto generalizações!).
Mas ainda descobri umas coisas complementares: quanto ao suposto carisma (do Costa), só pode mesmo residir no sorriso gingão, assim a armar a eu-sou-todo-bom-eu-domino-isto-ou-talvez-o-mundo. Na verdade, quando manteve uma fisionomia séria, mais parecia um coelho assustado, receoso de que o camarada o ultrapassasse, e, quando se mostrou  mais acintoso para com o outro, deixou sempre brilhar o sorriso triunfal. Ao menos para mim, está demonstrado, o carisma do Costa é o sorriso, aquele sorriso.
Já o ar  choninhas do Seguro advém do descaimento das pálpebras, qual François Hollande português,  e de dois dentinhos da frente que afloram tímida e graciosamente, quando esboça aquele sorrisinho sonso.
Se eu fosse o António Costa, ao menos enquanto estivesse em campanha, não havia de parar de sorrir nem um único segundo, ainda que acabasse com dores insuportáveis nos maxilares (talvez obtivesse junto do eleitorado o mesmo efeito que as promessas do Passos Coelho, de que não iria cortar o 13º mês, nem mexer nas reformas, nem subir impostos, nem ... essas coisas todas que ele disse em campanha e depois, coitado, não pôde cumprir).
Se eu fosse o António José Seguro, ao menos enquanto estivesse em campanha eleitoral, havia de coleccionar casos amorosos como se não houvesse amanhã, para ganhar a aura de sexy que o François Hollande, o original, conquistou em cima duma moto clandestina; e se uma ex viesse publicar um livro a agradecer-lhe aquele bocadinho, então ainda melhor (talvez obtivesse junto do eleitorado o mesmo efeito que as promessas do Passos Coelho, de que não iria cortar o 13º mês, nem mexer nas reformas, nem subir impostos, nem ... essas coisas todas que ele disse em campanha e depois, coitado, não pôde cumprir).
Está bem, estrategicamente, talvez o Seguro tenha sido um bocadinho mais espertinho, pois procurou virar o discurso contra o governo, sem deixar de aproveitar as afrontas do Costa, para, calmamente, lhe atacar o carácter; já o Costa,  foi um bocadinho mais espertinho ao pretender colar o Seguro ao passado socialista, em especial ao socratismo (e logo ele!), mas mais parvinho ao deixar-se apanhar na esparrela do oportunista, que, por sinal, lhe assenta como uma luva (ou assim parece).
Acabou de me ocorrer uma ideia sinistra: talvez deva regressar mais vezes à televisão, para voltar à crónica para-política...
 

 
Nota: imagem obtida  em pesquisa Google.
 
 
 
  


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