quarta-feira, 24 de setembro de 2014

MELHOR É MESMO IMPOSSÍVEL!

Começas a pensar e as coisas prendem-se umas nas outras, ligadas por fios invisíveis, desenhados em formato de teia de aranha ou labirinto, vai dar ao mesmo. Andas por ali às voltas, a tua cabeça anda por ali às voltas, sem ter a noção do que está antes e do que está depois, porque isso não interessa, a ordem cronológica é apenas uma mania de organizar o passado, mania própria duma qualquer obsessão-compulsão com a linearidade, o exatismo (sei que esta palavra não existe, mas acontece que quero usá-la, esta e não outra), uma qualquer febre de perfeição. Como se a vida fosse uma linha recta, desenhada em capítulos e títulos e parágrafos e períodos e frases e palavras e letras, tudo perfeitamente definido, arrumado em quadradinhos estanques e limpinhos, sacudidos do pó e das moscas e de tudo o mais que costuma incomodar a ordem. Acontece que não é assim. Tudo se liga, creio mesmo que não só do passado para o futuro, mas deste para aquele, passando pelo cristal do presente, aquele em que julgas que estás e te queres explicar, à custa duma história muito bem contada, sem lacunas, buracos negros, explosões, tsunamis e outras coisas mais, que, as mais das vezes, nem sequer chegas a (a)perceber. Fazes a ronda do passado como quem procura situar-se em relação ao futuro, melhor, precaver-se do futuro. Verdadeiramente, pretendes organizar-te, acho que é esse o teu desígnio, embora só tu possas saber qual é o teu desígnio. Sabe-se lá se pretendes uma qualquer vingança ou ajuste de contas, uma descoberta exuberante, uma omissão distraída! Só tu podes saber. Talvez não seja nada disso, talvez se trate apenas duma forma diferente de passar o tempo, em vez de outras formas. Uma coisa é certa, estás para a teia de aranha como mosca desprevenida está para a teia de aranha, estás para o labirinto como o cego está para o labirinto. Resta-te encarar essa necessidade de revisão como um hobby barato, um filme aleatório de que és o realizador e o actor principal e - julgas tu! - o argumentista, um filme povoado de actores secundários e improvisos, cujo início julgas conhecer, cuja sequência baralhas sistematicamente e de que nunca conhecerás o fim. Nem a tua febre de linearidade e perfeição to vão permitir. Sobretudo estas. Assim, se fosse a ti, esquecia. 
E fazia o quê? 
Olha, podias lavar as mãos cinquenta vezes, voltar atrás a ver se deixaste o fogão apagado ou a porta fechada umas cinquenta vezes, assim tipo o magnífico Jack Nicholson no filme Melhor é Impossível, sei lá (!), qualquer coisa assim. 
E qual seria o fim de semelhantes atitudes, tão extraordinárias quanto destituídas de sentido? 
O mesmo da tentativa de te ordenares no tempo! 
Não tens nada melhor para me propor ou melhor explicação para me dar? 
Olha, melhor do que isto é mesmo impossível!
(imagem obtida em pesquisa no google)
 
Nota: Esta ideia subjaz, de algum modo, à narrativa de que tenho deixado por aí alguns extractos, sob o título, A Não História De Vladimir Blue 
 
 


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