quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A MALDIÇÃO DO ESCORPIÃO DE MASSAMÁ

 
Passou-se hoje de manhã, em plena Assembleia da República, por ocasião do não-sei-quantos debate sobre o estado da Nação, ou coisa do género.
O primeiro-ministro ou o sr. Pedro Passos Coelho - não sei bem qual deles, fiquei baralhada, desde que o próprio começou a referir-se àquele como sendo uma entidade distinta deste ou vice-versa, talvez porque, subconscientemente, já nem ele se aguente, ou, quiçá, para imitar o sr. Cavaco Silva/presidente da República, ou, mesmo, para imitar aquelas crianças com menos de três anos de idade, que se referem a si próprias na 3ª pessoa, como se fossem outros - declarou, magnanimamente, que, no OE/2015, está prevista a reposição de 20% dos rendimentos de trabalho confiscados (esta palavra é minha, não dele) aos funcionários públicos, e que, em 2016, de acordo com o determinado pelo Tribunal Constitucional (TC), será feita a reposição do resto (80%, segundo as minhas contas, mas já não garanto!), aditando, com subtileza, a seguinte nuance, se outras propostas não surgirem entretanto.
Ouvindo isto, pensei, imediatamente, que os funcionários públicos, destinatários da medida, desataram todos aos saltos e a esfregar as mãos de contentes, admitindo que essas outras eventuais propostas deveriam ter a ver com a reposição retroactiva do que lhes tinha sido confiscado nos anos anteriores. Na verdade, se a integral reposição (para futuro) anunciada decorre da decisão do TC, a qual, conforme até aqueles profissionais sabem, é vinculativa, qualquer outra proposta só poderá constituir um mais em relação à mesma, nunca um menos e, ainda muito menos - gosto deste jogo de menos! - uma qualquer casmurra reincidência governativa, na conhecida linha de testar os nervos do TC, por assim dizer.
A bem da verdade, não foi nada disso que pensei; pensei, como qualquer mortal português minimamente acordado, que estava a ouvir mal. Não - estou a brincar -, o que verdadeiramente pensei, como qualquer mortal português minimamente acordado, foi que estava perante uma nova manobra de diversão eleitoralista, suprassumo da pós-modernidade governativa, consistente em empurrar com a barriga para a frente, ou seja, para as obrigações do próximo governo, uma miríade de medidas adoráveis, pelas quais o desgraçado povo anseia como de pão para a boca - passem os clichés, tão mal-amados na escrita criativa, whatever that is. Isto, no pressuposto (do anunciante) de que o Povo é completamente estúpido e, como tal, na altura de votar, sempre ficará atado aos fazedores de promessas em nome de outrem, que nem as suas honram (desde logo, por falta de intenção), antes pelo contrário (precisamente por falta de intenção).
Passou-se hoje de manhã, em plena Assembleia da República, por ocasião do não-sei-quantos debate sobre o estado da Nação, ou coisa do género.
O primeiro-ministro ou o sr. Pedro Passos Coelho - não sei bem qual deles ... (v., supra, que é igual) -, depois de devidamente azucrinado pelos partidos de esquerda e, também, pelo PS - este, na pessoa daquele anjo negro ( e feio), que ressuscitou das trevas para tutelar o talvez novo futuro primeiro ministro -, numa atitude que pode ser apelidada de tudo menos de incoerente, considerando de quem emana, portanto, em manifesta explicitação contraditória com o que havia pouco acabara de anunciar, passou-se de eleitoralismos baratos - aliás, está-se nas tintas para as eleições -, e afirmou, impante da sua natureza mais verdadeira, que, caso fosse primeiro-ministro em 2016 (longe vá o agouro!!!, digo eu), iria reincidir nas propostas, já chumbadas pelo TC, de reposição gradual dos rendimentos em causa (e sim, leram bem, não estou a inventar).
Abro, aqui, um parêntesis minorca para dizer que, embora ele o não tivesse referido, facilmente se imaginam as propostas que reserva aos reformados e pensionistas, na mesma funesta eventualidade (de ser primeiro-ministro em 2016).
O que eu pensei nesta altura? Pois eu digo, para além do óbvio e que, como tal, não carece de explicitação - acompanhado duns nomes feios, que aqui não vou reproduzir, mas que, devo confessar, nessas alturas me assaltam, inevitavelmente, a mente, donde saem, em formato de solitário desabafo mal educado -, pensei que muita gente na coligação PSD/CDS, especialmente, o criativo que deu a ideia das transferências de promessas para 2016, deve ter deitado as mãos à cabeça, e pensado, olha, este comporta-se tal qual o escorpião, acaba de dar uma ferroada a si próprio, quer dizer a nós, nos nossos interesses. Enfim, está-lhe no sangue!
Não liguem, quem estabeleceu esta associação com o escorpião fui eu. Estava só outra vez a brincar ao faz-de-conta
Como creio que toda a gente conhece a história O Escorpião e a Tartaruga (se não, é só pesquisar no Google, donde tirei a imagem infra), não me vou dar ao trabalho de a contar, limitando-me a acrescentar que foi esse escorpião, o da história, que me serviu de modelo para esta analogia.  Quanto aos senhores da dita coligação, também me estou nas tintas e, quando muito, o meu desejo é o de que não se esqueçam de pedir ao seu chefe que os ajude a atravessar o rio... da margem de 2015 par a  de 2016.
E assim vai a vidinha nacional!

Aguarda-se, ansiosamente, OE/2016, quer dizer, eu aguardo, embora sem esperanças, devo confessar, em nome dum realismo muito consistente, que leva em conta, entre outros factores, o conhecimento da natureza que o povo português tem vindo a revelar, ao sufragar sucessivas maiorias dos partidos do chamado arco governativo. Verdadeira natureza tartaruga, digo eu!

 

 

 

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