sábado, 6 de junho de 2015

PATRICK QUÊ?



Há factos que nada abonam em favor da nossa cultura, já não digo geral, mas literária. Um deles é, seguramente, só saber da existência dum escritor francês - digo francês, porque a França é mesmo ali à esquina e, até há relativamente poucos anos, pode dizer-se que a vida cultural portuguesa foi tributária da congénere francesa... -, através da notícia de que lhe foi atribuído o Prémio Nobel da Literatura!
Aconteceu-me isso com Patrick Modiano, beneficiário, em 2014, deste prémio (ia escrever galardão, para não repetir prémio, mas detesto a palavra, demasiado barroca...).
Para além de curiosa, senti-me quase obrigada - perante mim própria, entenda-se! - a correr à Bertrand mais próxima, com o objectivo de suprir tão incómoda lacuna. Acabei, assim, por adquirir O HORIZONTE (Porto Editora), para o qual só avancei há duas semanas, após ter vencido uma inexplicável resistência, desaconselhadora de grandes expectativas, e duas tentativas falhadas (em que não passara das primeiras páginas).
Devo confessar que me custou vencer o horizonte dessas páginas e de muitas mais, aí até metade do romance, onde, finalmente, comecei a surpreender alguma história, numa narrativa errante, tão errante quanto o assunto sobre que versa, a memória, aliás, uma particular categoria de memória, se assim se pode dizer. Nesse aspecto, devo reconhecer uma assinalável consistência - ignoro se intencional ou acidental, embora me incline para a primeira - entre a forma e o ritmo da narrativa e as vagas difusas mas impressivas daquela memória, que parece erigir-se em personagem-líder, ao comandar a vida (vazia) do protagonista, enchendo-a de fragmentos dum passado incumprido (aquém do horizonte, portanto), e impondo-lhe a necessidade (ou será obsessão?) de os reconstituir e, mais, de os redimir, na ideia do cumprimento dum futuro susceptível de ajustar contas com aquele passado, reeditando-o no presente. O que, aliás, é deixado em aberto. Como convém.
Mas será essa consistência suficiente para fazer de O HORIZONTE um romance maior, ao nível dum Autor nobelizado? Não creio. A utilização daquela particular ideia de memória, se bem que interessante, não me parece, propriamente, original. Por outro lado - e mais relevante - as personagens e a sua história carecem, a meu ver, de espessura e profundidade, não suscitam empatia (positiva ou negativa) suficiente para despertar no leitor aquele interesse que o conduz a uma reescrita, para si, da obra alheia, para assumi-la como património seu, ainda que no plano abstracto duma (eventual) partilha de identificações. Também o estilo - cuja qualidade, aliás, não questiono - e o pensamento - longe de atingir profundidade assinalável - não me conduzem ao reconhecimento duma característica maior neste romance.
Obviamente, não sendo um livro que faz um Autor - nem, de resto, um leitor -, reservo-me opinião mais fundamentada sobre Patrick Modiano para quando tiver lido mais uns livros seus (não que, de momento, me apeteça muito...).     







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