domingo, 4 de outubro de 2015

QUEM PERDEU AS ELEIÇÕES FUI EU!


E aqui estou eu, com uma enorme vontade de desabafar, mas sem saber bem por que ponta comece! Não é bem perplexidade. Esta pressuporia uma dose de inocência e desconhecimento da realidade de que, para mal (ou bem) dos meus pecados, não padeço. Também não é exactamente espanto, pela mesma ordem de razões. Por outro lado, não deixa de ser um pouco de ambos, que isto de se saber razoavelmente com o que se pode contar, não é o mesmo que aceitá-lo, assim, sem mais, só porque é (não devendo ser). Duma coisa, seguramente, se trata: uma infinita tristeza! Ah! acompanhada duma revolta monumental.

Como já adivinharam, estou sob o impacto das primeiras projecções sobre os resultados das eleições legislativas, que dão uma maioria significativa, embora não absoluta (valha-nos isso!), à coligação PSD/PP, de seu nome PàF, seguida, como segundo mais votado, embora a uma significativa distância, pelo PS, o (suposto) maior partido da oposição (e, essencialmente, idêntico àqueles)!

Quanto à campanha eleitoral e pelo que toca a esses dois protagonistas (as excelências do arco governativo, como e mais uma vez, se confirma!), achei-a tão vergonhosamente mesquinha e medíocre, que, de cada vez que tentei escrever sobre ela, acabei por desistir. 

Agora, limito-me a formular uma pergunta muito genérica, esperando que um qualquer sociólogo possa vir a responder-me. Pretendo, então, saber  como é possível tal resultado eleitoral, a favor dum  partido/primeiro-ministro (ou primeiro-sinistro, como se quiser) 

- que ganhou as eleições (precedentes) com base num cardápio de promessas falsas tão ou mais volumoso do que uma antiga lista telefónica (ainda existem listas telefónicas?), com o consequente défice democrático;  

- que governou contra as classes mais débeis (não só no plano económico), desde logo, os trabalhadores, os reformados, a classe média, apostando numa política de austeridade muito para além da que as circunstâncias do resgate exigiam;

- que desbaratou, através de privatizações (no mínimo) duvidosas, relevantes activos públicos;

- que, revelando uma tão vergonhosa baixeza ética e intelectual, virou trabalhadores contra trabalhadores, novos contra velhos, pobres contra remediados, etc., explorando o que de pior existe na natureza humana, a mesquinhez e a inveja;

- que, ao invés de se ter solidarizado com a tentativa inicial e desesperada do governo grego, no sentido de fazer prevalecer os interesses do povo sobre os interesses da grande finança (que disso se trata a política imposta pela Alemanha e caninamente seguida pelo governo português), hostilizou fortemente esse intento ;

- que se viu conspurcado por escândalos sucessivos, a começar nos do todo poderoso ministro Relvas e a acabar não sei onde, passando pelo caso dos vistos Gold e pelos casos Tecnoforma e incumprimentos fiscais do próprio Passos Coelho (susceptíveis de determinar demissão em qualquer Burkina Faso);

- que ... ora tantas outras coisas, vocês sabem ou têm tanta obrigação de saber como eu, para quê dar-me a mais trabalho!

O facto é que foi possível! 

Caso para dizer, o povo quis. Logo, o povo ganhou! Excepto eu, que me declaro totalmente excluída deste corolário (não do povo).  

A razão do povo ter querido já é outro departamento, mas não deixa de me fazer lembrar aquelas mulheres (ou homens) que levam porrada até mais não e nunca se desligam dos seus agressores, antes se dispondo a cair-lhes sempre nos braços, ou melhor, nos punhos. Talvez por medo do desconhecido.

Só para terminar: neste momento, enquanto a coligação PàF (e o povo, pois claro!) festejam a vitória e os outros - presumo - também encontrarão uma qualquer razão para declarar vitória, declaro-me triste e revoltadamente VENCIDA. Mas não vendida, valha-me isso!


(Imagem obtida em pesquisa Google)





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