terça-feira, 3 de maio de 2016

DIZEM QUE É MAIS BOLO!


O rádio, sintonizado na TSF, desempenha o seu papel (seja lá qual for), enquanto faço uma coisa e outra, sem lhe prestar especial atenção. No caso, acabo de escovar o cabelo e lavar os dentes, ponto de passagem para o duche - não que isto interesse alguma coisa, enfim... Já levanto o pé para entrar na banheira, quando as radialistas ondas se me impõem, desviando-me dos pensamentos ou divagações habituais para uma entrevista em curso. Arrebito as orelhas e foco os neurónios. Receio estar a ouvir ou a entender mal, mas não, confirma-se, o tema é, mesmouma alegada comunidade de assexuais, cujo símbolo é - imagine-se! - o bolo.

Pois, também duvidei, senti-me perplexa, mas era justamente sobre isso que a repórter indagava e a entrevistada discorria, que sim, havia, aliás, há, uma comunidade de pessoas, homens e mulheres, assexuais, com direito, inclusivamente, a página de Facebook, essa deslumbrante-montra-do-que-cada-qual-quiser

Tanto quanto percebi, não se trata de pessoas destituídas de sexo (quer dizer, de órgão sexuais, como diria o instruído Pedro Arroja, embora com maior grau de especificação), mas carentes de desejo ou atracção sexual, que, no dizer da entrevistada e a simples título de exemplo, preferem estar sossegadamente enroscadas numa cama a fazer conchinha ou ir ao cinema, a fazer sexo, actividade que nem lhes passa pela cabeça (ou por outro sítio, digo eu). Simplesmente porque dele não carecem, não lhe sentem o apelo nem, por consequência, a falta. Quanto ao símbolo, o bolo, não fui a tempo de captar a explicação.

Enquanto abstracção ou hipótese, a situação não me espanta - que a gente ouve e vê e pressente cada coisa, que já nada parece susceptível de causar espanto. Já noutra perspectiva, debato-me com alguma dificuldade em assimilar o fenómeno. Trata-se duma dificuldade da ordem da que tenho em compreender a existência de pessoas que não gostam de chocolate. Neste caso (e a  despeito do que a lógica da diversidade recomenda), tenho para mim que, a) ou gostam muito, mas não podem ou não querem comer (por exemplo, para não engordar); b) ou tiveram o azar de comer um chocolate estragado e ficaram traumatizadas para a vida; c) ou nunca provaram (nem vislumbram hipótese de provar) e não querem confessar; d) ou então é só birra, como as crianças que, apesar de nunca terem experimentado qualquer coisa, garantem a pés juntos não gostar; e) ah! ou, ainda, sofrem dum perverso fastio. Em qualquer das hipóteses, parece-me óbvio que a negação lhes deve ser bem mais fácil do que assumir a realidade. Trata-se, aliás, de psicologia básica.

Longe de mim insinuar que algo assim se passa com os ditos assexuais - que sei eu disso! Trata-se, antes, dum pressentimento ou, vá lá, duma desconfiança.

Depois, pensando bem, ter um namorado só para fazer conchinha, afigura-se-me um bocado descabido e, sobretudo, um enorme desperdício de recursos, até porque há aqueles peluches enormes, com um ar deveras fofinho, aos quais apetece fazer festinhas e que talvez sirvam para o efeito, libertando o namorado para outras aplicações. Não que esteja a dar ideias, não me venham depois acusar de que os peluches são verdadeiras colónias de ácaros. Por outro lado, em se tratando apenas de amigos, não vejo o gozo, quer dizer, a ideia - nada de confusões! - de fazer conchinha. Creio, até, ser meio caminho andado para derivar por outros caminhos não propriamente assexuais. Ou então mais vale intitular tal prática de chochinha... Já ir ao cinema, que é como quem diz, ir a um concerto, fazer running, jantar fora, ir ao Gin Lovers e etc., até me parece bem, sobretudo para quem não goste de ir só.

O que mais me intrigou foi a escolha do símbolo, o bolo. Os bolos são, por definição (e se não estiverem estragados), doces, fofos, saborosos e agradáveis à vista, características que representam, para grande parte das pessoas, requisito de atracção sexual - há até quem trate o parceiro por fofinho ou docinho, quer dizer, penso que há, embora ache bastante piroso. Ora, se os assexuais apreciam estas qualidades, não se percebe por que raio hão de preferir bolo a ..., a ..., àquilo que concretiza a atracção sexual, para dizer de alguma maneira. 

Também é certo supôr-se que os bolos cumprem uma função de preenchimento de carências afectivas, mas, se não há apelo/falta, onde está a carência, quem precisa de bolinho?
  
Quanto ao tipo de bolo eleito para símbolo, ignoro qual seja. Só espero que não se trate dum qualquer donut, bolo-rei, pírâmide (ainda há pirâmides?) ou éclair.  Se for o caso, então não dá mesmo para acreditar que eles (a tal comunidade de supostos assexuais)   estejam a falar a sério. 

Lateralmente, aproveito para alertar o Bloco de Esquerda para não se esquecer de tomar na devida conta esta situação, em sede de  versão final do cartão de cidadão/cidadã/e não só (assexual).

E, já agora, não seria altura de o próprio BE adoptar uma designação feminina ou assexual?  Considerando os sinónimos disponíveis, dentro do género feminino (não encontrei neutros), sugiro Massa Considerável e Pesada de Esquerda ou Batelada de Esquerda. Bloca de Esquerda era bem melhor, mas já circula por aí e não quero ser plagiadora.


A Prova:

(Para quem pense que estive só a inventar)





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