segunda-feira, 23 de abril de 2018

A BELA ADORMECIDA: VERSÃO FRACTURANTE


I - INTRODUÇÃO E CONTEXTO

Conta-se que, ainda o século XXI amanhecia, reinava num minúsculo reino perdido nos confins ocidentais da Europa um casal que vivia mergulhado em profunda tristeza, ansiedade e angústia.

As razões para tão lamentável situação vinham de longe, de quando o rei era ainda príncipe e, ao apaixonar-se loucamente, deparou com a feroz oposição dos poderes instituídos, desde seus pais, os reis, até aos governantes e parlamentares, sem esquecer o povo anónimo e iletrado, preso de ignorância e preconceitos sem limites.  Até o bobo da corte, imagine-se!, embora este, sob o jocoso disfarce das funções atribuídas. Não será exagero afirmar que, todos juntos, fizeram a vida negra ao jovem príncipe e ao seu par!

O príncipe - e herdeiro do trono - só não sucumbiu à cerrada e agressiva barreira de opositores porque encontrou nos braços, no coração e no resto do seu par o aconchego, a força e a esperança necessários para aguentar tão nefasto embate e prosseguir. Valia-lhe, acima de tudo, o facto de a sua exuberante paixão ser totalmente retribuída, que aqueles dois eram a encarnação perfeita do fenómeno almas gémeas (dando-se de barato que tal coisa existe e não foi inventada apenas para justificar certos contos). 

Não se pode dizer que tivesse sido fácil! Perde-se a conta (e o sofrimento) das vezes  que tiveram de fingir nem sequer se conhecerem, quanto mais amarem-se. Experimentaram navegar pela corte disfarçados de indiferentes, sofreram vexames quando não conseguiram disfarçar. Mas a verdade é que gozaram muito nos braços (e no resto) um do outro, quando, as mais das vezes na clandestinidade, puderam entregar-se mutuamente, sem reservas ou limites de qualquer ordem. E - talvez à força de tanta resiliência e gozo, nunca desprezar este elemento - a paixão triunfou e, inclusivamente, cedeu passo ao amor!

Entretanto, o rei, talvez desgostoso com o filho, que ele bem via o que se passava - contrariando a máxima, tem pai que é cego! - deixou-se embalar numa espécie de desistência, foi enfraquecendo a olhos vistos e, certo dia de outono - como poderia ter sido de qualquer outra estação do ano, nem sei porque referi o outono -, quando se preparava para entrar na banheira, perdeu as forças de vez, caiu com estrondo, bateu com a testa na borda da retrete e foi-se desta para melhor (para usar uma expressão popular parva, porque ninguém está habilitado a saber se existe o além e, em hipotético caso afirmativo, se é melhor do que isto por aqui, embora não pareça ser muito difícil, mas nunca se sabe, que ele há coisas…).

Foi o alerta da rainha, estranhando o atraso do marido para o brunch - era  domingo e aos domingos tinham por hábito brunchar -, que permitiu descobrir o sucedido, por intermédio dum lacaio encarregado de ir descortinar que raio se passava.

Ultrapassando pormenores - choque, tristeza, funeral, testamento, sucessão e etc., que, aliás, toda a gente sabe como funcionam e, se não sabe, facilmente imagina -, vamos directos ao momento em que o herdeiro ascendeu ao trono, assumindo um poder que, não sendo absoluto, já não eram tempos disso - aliás, já nem eram tempos de monarquias, mas aqui, a esta história, importa tratar-se duma monarquia, apesar de constitucional e democrática -, era, todavia, significativo, quanto mais não fosse pelo lado do simbólico e doutras coisas assim.

De resto, os tempos tinham evoluído e, com eles, as mentalidades ou pelo menos algumas delas, por sinal as mais influentes, e o agora rei assumiu abertamente o seu amor, desde logo fazendo-se acompanhar pelo par escolhido, no momento da coroação. Foi meio caminho andado para o casamento - não se esqueçam do poder do simbólico! -, que não só deixou de ter opositores relevantes, como foi reconhecido pelos poderes governantes e, obviamente, aclamado pelo povo ululante.

Não vamos prolongar mais este episódio que, aliás, apenas se mencionou a título de contexto, sobretudo para que se saiba que a vida do casal real, apesar da aceitação e reconhecimento tardio da sua união, não foi fácil. Mas as razões da profunda tristeza, ansiedade e angústia inicialmente aludidas eram doutra natureza - que, como dizem os sábios, ou será o povo?, uma desgraça nunca vem só.

II - MAIS CONTEXTO

O facto é que o casal real desesperava por ter um filho, um que fosse, não só por razões de ordem prática, garantia de continuidade da monarquia, mas, principalmente, pelo amor que devotava às crianças. E facto era, também, que o casal real não podia ter filhos! E, quando se diz que não podia era que não podia mesmo, tecnicamente falando. Perguntarão vocês, caso tenham lido até aqui, se sofriam de infertilidade. A resposta - e ainda bem que chegaram até aqui! - é um rotundo não! Sucedia simplesmente que quer o rei quer o seu amor eram do mesmo sexo, masculino, e nem a natureza nem a ciência nem a boa vontade e febre legislativa dos partidos defensores de causas fracturantes tinham evoluído ao ponto de suprir tal impossibilidade!

É claro que podiam adoptar uma criança, era até favor que prestavam a algum desvalido da sociedade (e muitos havia!) que, simultaneamente, lhes aumentaria as cotas de popularidade, mas não seria a mesma coisa! O que eles almejavam mesmo era um pequenito por cujas veias circulasse o seu próprio sangue, bem, ao menos o sangue dum deles, aliás, o sangue dele, do rei. Convém não esquecer a existência de razões políticas à mistura, significando que, por lei, na ausência dum herdeiro de sangue, a monarquia se extinguiria e lá se ia o legado de séculos para o galheiro (novamente um dito do povo, no seu máximo esplendor de expressividade. Já agora, sabiam que galheiro significa fogueira de galhos, mas também louceiro?). E era esta a razão oficial apresentada por ele e por ele, ambos os membros do casal, até porque não seria politicamente correcto confessar a existência de razões narcisistas e egocêntricas no anseio dos dois. Só um parêntesis para enfatizar, se é que ainda não repararam, que lá pelo reino o chamado politicamente correcto era uma norma, aliás, a norma por excelência, a determinar obediência cega (ninguém com dois dedos de testa e vontade de fazer carreira, mesmo como rei, se atrevia a violá-lá).

Valeu ao casal ter criado, nos seus penosos tempos de clandestinidade, uma rede de laços de empatia e cumplicidade com muito boa gente e, em regra, muito bem colocada - é óbvio que, mesmo na clandestinidade, não se davam com qualquer um -, cujas preferências ou opção, perdão, cuja natureza, em matéria de relacionamento amoroso, pendia para elementos do mesmo sexo, perdão, género. Uns declaradamente, outros não. Neste último grupo, havia até os que - e não eram assim tão poucos - exibiam cônjuge de sexo, perdão, género oposto, e, inclusive, não dispensavam prova de acasalamento, quer dizer, filhos  biológicos (por oposição a filhos doutros pais naturais e não por oposição a filhos de aviário, tipo, frangos). 

Interessa isto para concluir que esse grupo alargado de amigos deu em constituir-se em grupo de pressão e, segundo consta, mas podem ser só línguas viperinas, por força da posse de segredos vários, assim uma espécie de inside trading, lá conseguiram a aprovação duma lei que permitia o recurso a barrigas de aluguer, com o fim da produção de rebentos (assim como já tinham conseguido aquela lei dos casamentos entre pessoas do mesmo sexo ou género ou lá o que é).

A lei foi recebida na corte com esfuziante contentamento e logo se meteram mãos à obra - se é que assim se pode dizer sem ofender o tal politicamente correcto -, com o objectivo da gestação da criança, bem se sabendo que cabia ao rei ceder o esperma. O marido do rei, que era muito sensível e dado a birras inesperadas e por vezes espalhafatosas, reivindicou a escolha da dadora de óvulo e barriga de aluguer, indicando para o efeito uma sua irmã. O rei, condescendente e, sobretudo, receoso do que pudesse aí vir com uma nega, satisfez o desejo/imposição do cônjuge.

Mas, para aqueles dois, mais parecia que a tormenta estava sempre à espreita - podem não acreditar, mas que há sortes, há! -, e logo veio o governo da altura, que calhava ser um bocado avesso à monarquia, tentar boicotar a opção do casal. Como?, perguntar-me-ão (no optimista pressuposto de que tenham aguentado até aqui sem perder o interesse no desfecho, apesar de ainda não terem entendido por que raio ainda não há sinal da Bela Adormecida). Muito simples, o ministro da pasta resolveu inventar que, em nome dos princípios democráticos e estando em causa o nascimento do futuro rei e não duma criança qualquer, a barriga de aluguer deveria ser seleccionada por concurso público!

Se o rei não gostou da decisão, que, aliás, considerou como uma afronta pessoal, o marido do rei foi aos arames (bendito povo e seu manancial de expressões!) e, como nada pudesse contra o governo, dado o princípio da separação de poderes, voltou-se contra o desgraçado do rei, de quem, volta e meia, fazia gato-sapato, e regurgitou, na sua voz esganiçada, elevada ao volume máximo, - Olhe, João Maria Gonçalo dos Prazeres e por aí fora, isto só acontece porque você é um frouxo, não manda nada e deixa que façam de você...   O rei, interrompeu-o, dizendo, - Gato-sapato, não era isso que o Sandrinho ia dizer? Ai querido, você é tão previsível quanto fofinho, tenha calma que isto vai resolver-se. Já meti o Duque de Panelas em campo, sabe, o que era amigo íntimo do ministro sem pasta antes de ele se casar, lembra-se? Ao dizer isto piscou um olho ao marido, que, caindo em si, soltou uma gargalhadinha estridente, daquelas de rasgar tímpanos. - Você sempre me saiu cá um malandreco, João Maria Gonçalo dos Prazeres, minha alteza real!

E foi como se depreende, vá-se lá saber porquê, a história do concurso público para adjudicação da barriga de aluguer caiu no esquecimento, as revistas do social começaram a impacientar-se pela demora no processo e, tudo junto, em menos de nada, a Sónia Cátia, irmã do Sandrinho, cônjuge do rei, albergava no seu ventre redondo o futuro herdeiro real. 

Espero que, por esta altura, já seja evidente que os manos Sandro e Sónia Cátia pertenciam  a uma camada por assim dizer menos privilegiada da sociedade - sem o que, obviamente, não teriam tais nomes - e essa era a razão por que, em tempos, a relação do (então) príncipe com o Sandro foi tão contrariada. Pelo menos era isso que…

E agora sim, estamos a chegar ao cerne da história, portanto, se ainda está por aí, nem pense em ir-se embora, seria como chegar à Costa da Caparica, num dia de extremo calor, e desistir  dum refrescante mergulho. 

III - A BELA ADORMECIDA, FINALMENTE!

Portanto - e aqui começa mesmo a verdadeira história que justifica o título ou talvez não, agora que penso nisso -, ao fim do tempo da praxe, a criança nasceu!

Vamos deixar a barriga de aluguer em paz, a recompor-se da chatice do parto e a fazer planos para gastar o dinheiro que recebeu à conta e que não foi pouco, e centremo-nos nas personagens principais. 

Ei-las, o rei, o marido Sandro e a criança, que vem ao colo duma nanny fardada à maneira. Saem da maternidade, sorriem com a boca toda, exibindo fiadas de esmalte (bem, a criança, não), acenam à multidão apinhada, que os vitoria e lhes atira peluches.

Repara-se, então, numa senhora idosa e elegante, com o pescoço debruado a pérolas, que se aproxima, rápida, e saca a criança do colo da nanny, pondo-se a jeito para os flashes da comunicação social e do Correio da Manhã! A multidão eleva um urro de aplauso à rainha mãe (sim, é ela, a das pérolas) e o Sandro, sem perder tempo, mete-se à frente da sogra e abana-se dum lado para o outro, em perfeito boicote à foto. Mal se apercebe - e não é difícil aperceber-se -, o rei agarra o Sandro pelo cotovelo e segreda-lhe algo ao ouvido, que, segundo uma perita em leitura labial, foi, tenha calma Sandrinho, não arme bronca, deixe lá a velha ficar na foto que eu compro-lhe um anão ou um gnomo, sei lá, o que o menino quiser, mas por amor de Deus não dê bronca, olhe as sondagens, olhe que a monarquia está por um fio, qualquer dia desmorona-se e que é feito de nós e da criança, ai.

O Sandro afasta-se a contragosto, acabam a posar todos juntos para a fotografia com uns sorrisos tão torcidos que parece que acabaram de sofrer um AVC, e a criança aos berros, que vem sensível e apercebe-se da mais mínima dissensão entre os que a rodeiam.  

Deixemos a porra do casal mais a velha e a nanny para trás, que já deu para perceber do que a casa gasta (outra…), e centremo-nos finalmente (e já não é sem tempo) na criança, uma menina, foi o que saiu!

Não quiseram saber o sexo antes, convenceram-se de que era um rapaz e foi no que deu, agora o povo e o Cláudio Ramos, mandado pela SIC, desesperam por saber o nome da cria, e é o choque, a surpresa, chama-se infanta D. Francisca Maria Teresa etc etc e Sandra. Uma explicação: a muito custo, o rei conseguiu endrominar o marido e convencê-lo de que, lá entre eles, a realeza, o nome mais relevante vinha em último lugar. Quer dizer, a menina ficou Sandra, mas com esperança de que, sendo o nome tão comprido, nunca ninguém, ao pronunciá-lo, conseguiria chegar ao Sandra, deixando-se dormir ou morrendo antes de cansaço. O Sandro, sendo um bocado burro, acreditou na versão do marido e prescindiu de ajuntar um outro nome que também lhe era muito querido e tinha raízes familiares, Cátia. Ainda bem que, por essa altura, já não havia bobo da corte, enquanto figura oficial, embora ainda houvesse contadores de histórias que é coisa que sempre haverá, a menos que acabe entretanto por força do abandono dos hábitos de leitura, oxalá não, ao menos até esta ser lida muitas vezes, que foi para isso que me dei ao trabalho de a escrever, se fosse apenas para divertimento pessoal deixava-a ficar no resguardo da mioleira e aproveitava para fazer outra coisa qualquer.

Agitaram-se as hostes ao saber-se que, em vez do esperado rapaz, nascera uma menina. 

Reunidos os deputados em sessão oficial de comemoração do nascimento real, logo a maioria pró-republicana se uniu na subscrição duma praga para que os reis não tivessem mais filhos, sendo que a manutenção da monarquia dependia (também) duma linhagem masculina, o que não estando nada com os tempos, era próprio de instituição tão retrógrada e, de resto, não destoava de muito do que se passava naquele reino - por exemplo, em igualdade de circunstâncias, os cargos políticos e de chefia serem maioritariamente ocupados por homens, estes ganharem mais do que as mulheres, os programas de tertúlia e comentário político dos media serem, na sua quase exclusividade, constituídos por homens, etc.

Todavia, havia uma deputada boa, sensível e, sobretudo atenta, que, aliás, julgara ter vislumbrado algo estranho (arrapazado, foi isso) na expressão ou na forma de se mexer da criança, e então, procurando anular o efeito da praga dos seus colegas pró-republicanos, vaticinou que a criança e, com ela, o rei e todos os outros dormiriam durante dezasseis anos e depois algo havia de suceder e logo se veria. Não chegou a anunciar o quê, pois, logo de seguida, deixou cair a cabeça para cima do computador, adormecida. E como ela os outros, todo o hemiciclo ficou igual a si próprio, em coma. E o mesmo com o resto do país, não que daí viesse mal ao mundo, talvez antes pelo contrário.

Passou-se um ano e outro e, está-se mesmo a ver, passaram-se dezasseis anos. 

O reino estava lindo, cheio de trepadeiras e teias de aranha. Com o adormecimento colectivo não tinham acontecido incêndios, a dívida pública descera para mínimos inconcebíveis, até o reino tinha desaparecido do ranking dos mais corruptos, que isto de ser corrupto exige alguma actividade, se bem que, por vezes, também implique fechar os olhos e fingir-se de morto. Em contrapartida, o turismo aumentara, numa modalidade nova, só os turistas fugiam à condição de adormecidos, enquanto os residentes dormiam à sombra dos turistas.

Então, a menina, que tinha adormecido recém-nascida com um vestidinho cor de rosa, vá-se lá saber porquê acordou com 16 anos, cabelo muito curto, uma sombra de penugem a debruar-lhe o lábio superior, uns jeans largueirões, uma t-shirt dos metalica sobre o peito liso e umas botas da tropa.

Ao seu lado e soprando-lhe ao ouvido, estava a deputada que tinha vaticinado aquilo de que depois de 16 anos de sono logo se veria. Sussurrava-lhe, - Sabes uma coisa, agora as meninas já podem ser meninos e os meninos meninas e, cereja no topo do bolo, já podem escolher se querem ser uma coisa ou outra (e quem sabe o seu contrário ou outra coisa qualquer) aos 16 anos, e sabes quem faz hoje 16 aninhos, sabes? 

A princesa encarou a deputada do jeito que só os adolescentes, o que é que esta quer, ganda parvalhona, tá bués da baralhada, levantou-se, espreguiçou-se, mirou-se ao espelho e perguntou, - Olha lá, ó coisinha, quem foi o cabrão do assessor de moda ou consultor de imagem ou lá o que é que me pôs nesta figura? Onde é o roupeiro cá do sítio?

Sem esperar por resposta, desapareceu para voltar meia hora depois, com um belo vestido vermelho, umas extensões que lhe prolongavam o cabelo até quase aos rins, o lábio superior liberto da sombra de buço e o que mais conseguirem imaginar.

A deputada, meio atónita, meio melindrada, espantou os olhos. E pior ficou quando a princesa, num tom desabrido, de quem exige resposta rápida e a contento, lhe perguntou,

- Olha lá, ó minha, onde está a porra do príncipe?

Como que por magia, ou como quem estava escondido nos bastidores à espera de ser nomeado para entrar em cena, apresentou-se um garboso rapaz, o príncipe, está-se mesmo a ver! Sorriu e preparava-se para beijar a princesa, quando ela, esquivando os lábios,

- Olha lá, não sei o que tens andado a fazer nestes últimos 16 anos, mas vê se te apressas e vais preparar uma lei que permita a continuidade da monarquia independentemente do género do herdeiro/a. Depois, volta e logo se vê. 

O Príncipe partiu, apressado, na ânsia de regressar com a missão cumprida e ver no que dava.

E pronto, foi assim que a Bela Adormecida acordou para a vida! E não acordou nada mal, parece-me!


(Imagem obtida em pesquisa google)











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