domingo, 15 de abril de 2018

NINGUÉM SE FAZ!


Há dias, o meu Irmão, com todo o jeito que tem para contar histórias (de família e não só), recordava que a Mãe, quando qualquer de nós criticava alguém pela aparência física, costumava desincentivar-nos, advertindo, "Olha, ninguém se faz!".

Eu, na minha parcial desmemoriação de muitas coisas do passado (espécie de Alzheimer ao contrário?!) não me lembrava, mas não me foi difícil imaginar o ar doce e compassivo com que a Mãe faria tal reparo. 

Por meu turno e na mesma linha, aditei a memória de quando, face a impaciências minhas perante terceiros desconhecidos - tipo, buzinar a empatas, no trânsito -, a Mãe aconselhava com esse saudoso jeito doce e compassivo, “Deixa lá, sabe-se lá a vida dele!”. Ainda hoje, no calor de esporádicos desesperos - bem, no tocante ao trânsito, não tão esporádicos, digo-o em abono da verdade e não desprovida de certo constrangimento -, vem-me à memória o sábio conselho maternal e reajo em conformidade - por vezes, ainda e sobretudo em questões de lentidão rodoviária, não vou a tempo, mas o coração amolece, a cabeça recrimina e, pelo caminho, salvam-se algumas vítimas; e, acima de tudo, é mais um momento de presença da Mãe (único garante da sua eternidade).

Era assim, a Mãe, a pessoa mais doce, delicada, bondosa, generosa e indulgente que me lembro de ter conhecido! Uma pessoa povoada de amor, na mais lata (e alta) acepção da palavra.

Se a Mãe tinha defeitos? Quero lá saber! As suas múltiplas qualidades, nomeadamente as que mencionei acima, constituíam a sua imagem de marca. Aliás, continuam e continuarão a constituir - agora, infelizmente, no plano da eternidade para onde já transitou -, ao menos enquanto alguém, um filho, uma filha, um neto ou uma neta a recordarem! Com sorte, o bisneto ou a bisneta que não chegou a conhecer ainda a recordarão, por via das histórias ouvidas dos anteriores.


A Mãe completaria 97 anos no próximo mês (não por acaso) das flores! Todavia, muito injusta, precoce e incompreensivelmente, deixou-nos aos 77. Nós não a deixaremos, assim a memória persista e se faça ligação aos mais novos... 


(She was so beautiful!)








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