quinta-feira, 15 de maio de 2025

RAP DA CARANGUEJOLA ELEITORAL

são múmias ressequidas
passas mais que repassadas
sonhos de criança sonsa
espinhas atravessadas
sóis verdes a brilhar

e o país, triste país, que visão para o país?
ninguém sabe, ninguém diz!

são bonomias forçadas
em vez de zangas espantadas
d. lili deu o mote
quem podia resistir-lhe?
que avance a mota e o capote

e o país, triste país, que visão para o país?
ninguém sabe, ninguém diz!

são modos arruaceiros
setas sempre a disparar
ene matrioskas de trolleys
o silício a dar a dar
e o refluxo a atacar

e o país, triste país, que visão para o país?
ninguém sabe, ninguém diz!

são hospitais do sr. melo
esses e outros que tais
para quem tiver dinheiro
os outros, pobres coitados
morram de espera, nem mais

e o país, triste país, que visão para o país?
ninguém sabe, ninguém diz!

são cassetes, mais cassetes
mas sempre as mesmas cassetes
e vai e anda de roda
bora aí mais uma volta
que o cunhal ainda acorda

e o país, triste país, que visão para o país?
ninguém sabe, ninguém diz!

são promessas arremessadas
casa à borla para todos 
que o senhorio é quem paga
defesa das mães, coitadas
excepto as lá do partido

e o país, triste país, que visão para o país?
ninguém sabe, ninguém diz!

são falinhas mais sensatas
ares assim pró clerical
ideias muito bonitas
tudo muito ideal
falta testar no real

e o país, triste país, que visão para o país?
ninguém sabe, ninguém diz!

são hospitais para os pets
caminhas para os rafeiros 
tomai whiskas felinos 
sem-abrigo, o que é isso?
que continuem trapeiros

e o país, triste país, que visão para o país?
ninguém sabe, ninguém diz!

ninguém sabe ninguém diz
quem quer saber do país?

triste país condenado
povo mais desnorteado
desde sempre a improvisar
desde sempre a delirar
mas nunca a realizar
nem sequer delinear
um ideal, uma ideia
quanto mais concretizar!

 
(Nota: este texto – agora editado e "enriquecido" com o "episódio do refluxo" – ocorreu-me no dealbar do passado dia nove, na fase de transição para o sono; sentei-me na cama, escrevi-o, à pressa, no bloco colocado a jeito sobre a mesa de cabeceira, antes que se me varresse da cabeça, o que, aliás costuma suceder a muitas das brilhantes ideias e textos 😃 que os meus neurónios ousam criar em tal fase.)