Há sonhos simples de realizar. E nem por isso deixam de ser sonhos.
Tinha o sonho de visitar um farol. Talvez por ser acessível, demorei e demorei até o cumprir. Talvez fosse para manter a ilusão em lume brando, sei lá!
Finalmente, há dias, entrei no Farol do Cabo da Roca. Subi os seus oitenta e oito degraus, a maior parte em caracol, depois, mesmo ao chegar ao espaço que aloja o farol propriamente dito (o emissor de luz), erguidos a pique, muito estreitos, talvez passíveis de suscitar vertigens a quem a elas for atreito ou perigosas escorregadelas, a quem não pouse os pés com a devida cautela e não se agarre convictamente ao duplo corrimão.
Estive, assim, no ponto mais alto do ponto mais ocidental de Portugal (e da Europa) continental, o que, não sendo nada de especial, achei engraçado, dois recordes num só e um sonho cumprido. Um contentamento sem ressaca, porque vou continuar a sonhar com faróis e a visitar tantos quantos puder.
Foi bonita a subida, interrompida pela vista proporcionada por pequenas janelas inesperadas, parecendo recortar aguarelas.
Lá em cima, o farol foi posto a funcionar, emitindo o seu banho de luz circulante, como quem dialoga com barcos à distância. Evidentemente, senti-me barco!
Só não me foi permitido o acesso ao varandim. Fica para uma próxima, não posso prescindir, disso tenho a certeza.
Deixo o registo sequencial desta viagem, sem esgotar o tema...