terça-feira, 11 de agosto de 2015

terça-feira, 4 de agosto de 2015

JOÃO LUAR




E era a lua. Deixou-se crescer para os lados, até se deter nas bordas duma circunferência. Parecia um prato de servir tartes, só que, em vez de tartes, servia luz. A luz espalhava-se e inundava o céu à volta, debruçando-se sobre a terra, sobre a parte de cima da terra. Assemelhava-se a gotículas, talvez pingos de chuva arrependidos de ser chuva ou lágrimas com vontade de espairecer. Reflectiam brilhos duma tal distância, de tantos impossíveis por alcançar! 
Sentei-me à sombra da luz. Usei protector lunar, de alto índice de protecção, não fosse pôr-me a uivar ou ficar muito branca, como as princesas, que, sem necessidade do sonho, só porque alguém sonhava por elas e lhes inventava uma história, eram presenteadas com magníficos príncipes, muitas vezes habilitados com longos doutoramentos em sapo e dotados de cabelos louros, esvoaçando sobre cavalos esbeltos, como modelos Armani ou Tommy Hilfiguer. Ah! e com olhos azuis, a combinar.
Depois desatei a sonhar, que voava, montada num aspirador, cuja função era sorver o ar, em enormes golfadas, para dentro da barriga. Desatava a alargar, a inchar, de tal maneira que se tornava leve como uma alma (não qualquer alma, nem todas são leves!), e começava a subir, a subir, a subir, até atingir as franjas do luar. 
Já com a superfície da lua ali à mão de semear, estendi um braço e alcancei um torrão, que se esboroou por entre os meus dedos, caindo por ali abaixo, aos trambolhões, no sentido inverso ao da minha viagem de aspirador.  Desceu e desceu e desceu e, lá muito longe, acabou por aterrar. Infiltrou-se numa chaminé, deslizou para a lareira e soltou um gritinho ao assentar, feito minion, formato pessoa, de pernas e braços e cabeça e tronco e tudo. E dois olhos enormes, com brilho deslumbrante. Escorregou para o meio da sala e encontrou-se nas mãos duma criança, que brincava, pois é isso que as crianças fazem. A criança não manifestou qualquer espécie de estranheza e logo baptizou o minion de João Luar. Porque as crianças sabem a origem e o significado das coisas, mesmo sem saberem. Depois, quando fazem estágio para adultos, viram isso ao contrário e passam a desconhecer, mesmo convencidos de que sabem. Quando aterram em adultos já não há nada a fazer. Resta, porém, a esperança do regresso dessa sabedoria, lá para quando estão próximos da hora da morte e resgatam a criança perdida, mas isso só acontece a alguns, os que se sentam à lua, com protector lunar. Ou mesmo sem ele.
Seja como for, a minha viagem continuou. Fiquei com pena de ter, acidentalmente, roubado aquele bocadinho de poeira lunar, quando o vi esboroar-se das minhas mãos para as profundezas. Ignorava onde iria ter e - mais grave ainda - tinha-o separado da sua natureza. Entretanto, o aspirador deixou-me rente ao solo lunar. Caminhei com cuidado, para não causar desgraças, não queria mais torrões de lua desperdiçados. Pisei diamantes, devagar. Fui ter a uma fonte donde corria prata líquida. E havia pérolas de caviar. E altos e baixos, lisos como cabeças de bonecos carecas, onde me pus a saltar e a escorregar, como se num escorrega gigante. Só que num desses saltos, descuidados, lancei-me com tal força que deixei as margens da lua e vim por aí abaixo aos rebolões. Cruzei-me com o João Luar. Ignoro como sabia que ele se chamava João Luar, mas percebi quem era, disse-lhe adeus, enquanto continuava na vertigem, contente por o ver de regresso.  À medida que me aproximava, ouvi o choro duma criança, reclamando, em desespero, aquele bocadinho de luar. Mal acabei de me estatelar, corri para ela e contei-lhe a minha aventura, sem esquecer ponto ou vírgula ou o mais pequeno nada. Tal qual ficou aí acima, nem mais nem menos. Pensei que ela ficaria contente, mas desatou aos berros, não se resignava a ter perdido o João Luar. Expliquei-lhe que o João Luar tinha regressado a casa, que é onde se regressa depois das maiores aventuras. Insistiu em berrar. Perdi a paciência e acordei de sonhar. 

(Há dias, quando fiz as fotos que seguem, ignorava que me iam desadormecer esta história...)













domingo, 2 de agosto de 2015

OS ANIMAIS NÃO RIEM, ELES LÁ SABEM PORQUÊ


Lá ia ela, completamente imersa em pensamentos descabidos e outros nem tanto, desviada da atenção às coisas ali ao lado e, mesmo, às coisas em frente. Desta vez, dera em congeminar na razão por que os animais não riem, nunca tinha visto um animal, real ou em imagem fotográfica ou outra, que mostrasse os dentes num sorriso ou arregalasse os olhos numa boa gargalhada. Isto, porque acabara de ver um vídeo idiota, com um qualquer mantra - chamavam-lhe assim, fosse lá o que fosse - onde escorregavam, ao som duma melodia açucarada, bonitas imagens da natureza, animais incluídos e também um casal de humanos (o tal mantra whatever era sobre o amor, esse tema do tamanho do universo!). Enquanto o casal se derretia num sorriso amarelo torrado, os animais permaneciam imutáveis, naquela sua ausência de sorrisos, muito menos de risos. Pensou na cadeia alimentar que engrena e regula os fenómenos vitais e mortais, para não dizer concorrenciais, das espécies deste formoso planeta, a Terra (local dos factos), e não lhe custou perceber o comportamento dos animais, os outros, que não os humanos.
Foi assim, desenvolvendo este tema ao nível do interior da caveira, a sua, que entrou no quarto, batendo com a porta distraidamente. Nem ouviu o estalido do fecho ou então pensou que era alguém a rebentar um balão de pastilha elástica (como se houvesse alguém por perto!).
Fez o não sei quê que a levara ali e, ao deixar cair os olhos sobre certa foto em cima da cómoda, avivaram-se-lhe aqueles três homens. Todos tinham partido, um, o marido, para não mais voltar - vou ali comprar um frango assado, não me apetecem os rissões, volto já, foi o que disse, sem se deter sequer num beijo ou num olhar ou num gesto de mão, talvez uma festa. - E agora o que faço aos rissões, pensei que gostavas de rissões?, foi a resposta dela, esbanjada para o vazio, ele já desaparecido para lá da porta, como quem quer ir morar longe. Quando as páginas do calendário foram passando e ele sem aparecer ou dar notícias, ultrapassada a fase da preocupação e as outras, tipo, angústia, fúria, desgosto e etc., ela acabou por aterrar numa espécie de resignação sarcástica e pensou, como quem põe um ponto final num assunto ultrapassado, ao menos, o sacana do cabrão podia ter dito que ia comprar tabaco, sempre era um clássico!
Os outros dois, os filhos, na fúria da emigração tinham ficado por lá, fosse onde fosse, raramente apareciam ou davam notícias, e, quando vinham era para reverem os amigos e assim.
Voltou a fotografia de costas, já que, bem lá no fundo do poço de si, não conseguia voltar as costas à fotografia, e pensou, nada de mais, apenas acontece que estou só, aliás, ao fim de todo este tempo, já é mais caso para dizer, sou só. Que se lixe, antes só do que a fazer rissões para porcos (nesta parte sorriu, divertida, com a fusão de dois vulgares aforismos).   
Rodou o puxador da porta, como quem pretende dar a volta à vida, já a pensar em coisas banais, como, tenho de ir arejar a mioleira, e nada, a porta não abriu. Insistiu, insistiu, já a panicar dum ameaço de claustrofobia, e nada. Sentou-se na cama, respirou fundo, sossegou um pouco o coração desabrido, pensou, o telemóvel!, mas o telemóvel não estava consigo, aliás, começou a guinchar naquele preciso momento, lá longe, nos confins da sala (era um dos filhos, ao fim de quatro anos de ausência, a avisar - caso a chamada tivesse sido atendida - que ia aparecer daí a uma semana, para levar o Rolex do pai, sempre era uma recordação). Vociferou desesperos em forma de asneiras pensadas, sobretudo a começada por f, em todas as suas variações - que se f, estou f, vida f, f-se, sem esquecer a versão inglesa, sempre tão expressiva, nos filmes... -, passou à acção, arremessando coisas e, mesmo, arremessando-se contra a maldita porta, até que, ingloriosa nas suas tentativas, desabou no chão de madeira corrida, brilhante como a via láctea, sossegou e fez o ponto da situação, ora bem, estamos em Agosto, ninguém no prédio, sempre poupo a berraria, comida e bebida também não, resta-me dormir - e, depois disto, ainda aditou, bem que o puxador andava um bocado lasso, agora que penso nisso, se não tivesse por hábito a distracção, não me acontecia nada disto.
Vários telefonemas não atendidos depois, o filho do telefonema começou a realizar que algo não batia certo, afinal ela sempre estivera disponível para atender chamadas longínquas. Não encontrou ninguém a quem ligar, pois desconhecia contactos de eventuais amigos ou pessoas próximas dela, nunca se preocupara com isso. A Polícia estava fora de questão, não pretendia criar alarido sem razão certa. Na data programada apresentou-se à porta. Pressionou insistentemente a campainha, mas ninguém atendeu. Só depois duma  meia hora, em que a campainha rasgou as paredes do prédio como navalha a atravessar carne tenra, resolveu pedir a intervenção dos bombeiros. 
Eles lá sabem porquê - foi o pensamento que, embalado num sorriso irónico, a acompanhou para além da porta do quarto, pouco antes da entrada do filho, seguido dos bombeiros.  







quinta-feira, 23 de julho de 2015

A MENINA QUE VIVIA A SONHAR


lá longe, num planeta extremo, havia uma ilha, de pés dados ao mar
albergava uma casa pequena, refulgente de branco, qual campo de neve sob o luar do sol
mas não era neve, era simples cal
bem, escondia um segredo, não era apenas cal, pois - e só aqui entre nós - pó de diamante se lhe misturara
era mesmo isso que tanto brilhava!
tinha uma varanda, enrolada à volta, qual écharpe flutuante
uma varanda redonda, um círculo fechado, quero dizer, um círculo
só podia, pois a casa circunferenciava
dispensava telhado, escancarava-se para cima, com intenção
assim, os seus moradores podiam colher directamente farrapos de nuvens, aves vagabundas e estrelas cadentes
e até as outras, quiçá
tinha uma só porta, de caras para o mar
quando não alterava a localização, espantando-se para os lados ou para a parte de trás
quando, não cansada do mar - nunca se cansava do mar -, lhe apetecia ver o arvoredo, mudava de posto e quando, não cansada do arvoredo - nunca se cansava do arvoredo -, lhe apetecia o mar, voltava a mudar
e o mesmo quando queria ver ambos...
era apenas isso
mas, ao contrário do telhado, a porta permanecia sempre fechada
porquê?
porque não havia ninguém para lá entrar, a não ser quem, vindo da parte de cima, lá quisesse aterrar, embora depois fosse livre de voltar a voar
ah! já me esquecia de dizer, a ilha era deserta, sem sombra de alminha para a habitar
bem, não era exactamente assim, alguém lá haveria, mas era segredo, bem guardado da porta para dentro - e só aqui entre nós deixa de o ser, que falo baixinho, num murmúrio brando e estou bem ciente que não ireis contar
e quem era esse alguém?
isso já não sei, toca a adivinhar!
seria um duende, um troll, um dragão, um cãozinho agitado, uma fada madrinha, uma bruxa má, uma pessoa bonita, uma rã coxa, sempre a coaxar, a princesa da ervilha, o joão ratão, o burro do schreck, um qualquer minion ou então quem?
toca a adivinhar!
nada disso, estou já a avisar
quando descobrirem, venham-me contar!
... ora, ninguém sabe, vou confidenciar: era uma menina que vivia a sonhar!
   








sexta-feira, 17 de julho de 2015

MORREM MAIS DE MÁGOA


Quando li este título dum livro do Saul Bellow - Morrem Mais de Mágoa -, podia ter pensado numa frase que, ouvida repetidas vezes, por alturas da adolescência, me suscitava uma certa sobranceria. Morreu de desgosto, era a frase, que, acompanhada dum empático coitadinha, se referia a uma senhora - creio que a D. Guilhermina, da sapataria... -, que expirara do coração, depois de inúmeras traições maritais. Para mim, era do domínio do inconcebível que alguém pudesse morrer de desgosto e, para mais, por um tal motivo. Enfim, pouca vida, quero dizer, vivência. Hoje, muito tempo depois, já percebo que alguém possa morrer de desgosto, pelo motivo mais improvável, sobretudo se se entender como morte a recusa ou impossibilidade de viver (mesmo continuando vivo)...  
Não é que tenha pensado nisso, na tal frase e no mais, mas fiquei curiosa sobre que causas de mágoa/morte versaria o livro e criei a ideia de que talvez pudesse tratar-se duma narrativa pungente, de tom magoado. 
Puro engano, felizmente! O tom deste romance nada tem do (tipo de) dramatismo que o título possa sugerir. Não que a história não contenha elementos dramáticos, mas é abordada com uma notável dose de  distanciamento crítico, tecido, com mestria, numa base de racionalismo e objectividade. No entanto, versa sobre questões tão subjectivas como sejam as relações de amizade, aliás, elevadas ao grau duma invulgar cumplicidade, entre um tio e um sobrinho - o narrador -, como pano de fundo para o discurso sobre as dificuldades de ambos - por razões bem diversas, apesar de, eventualmente, remetidas a uma matriz comum (de individualismo e solidão) - em estabelecerem relações amorosas gratificantes - face aos seus padrões de expectativa e, já agora, aos padrões socialmente dominantes. Assim, o narrador vai-nos contando o percurso amoroso do tio, enquanto nos desvenda o seu, embora aparentando conferir-lhe o nível dum segundo plano e dissertando em termos que, por vezes, se revelam quase ensaísticos, sobre vários assuntos, pessoais, sociais e políticos, o que faz num tom surpreendente, pela argúcia de observação psicológica, pelo humor, de marca irónica, e, sobretudo, por uma cativante actualidade, que me deixou francamente rendida. Abro um parêntesis para salientar que este último aspecto pode considerar-se indicado no próprio texto (de forma mais ou menos subliminar), quando o Autor coloca na voz do narrador as seguintes observações: "Embora ela fosse apreciadora de Balzac, os seus interesses mais profundos estavam tão longe do mundo contemporâneo como os do marido. Quando nos metemos na vida quotidiana, podemos ser apanhados pelo pescoço, mas se, por outro lado, nos recusarmos a entrar nela nunca se perceberá nada." (p. 356) e, mais adiante: "Contudo, o certo é que, sem tais dons, não havia forma de compreender a América, e de que servia batalhar por compreendê-la se falta a aptidão? E possuo uma forte tendência para ser contemporâneo, se assim não fosse estaria, se calhar, a discorrer sobre a Grande Muralha da China. " (p. 365). 
A acção é conduzida com doses precisas de teasing, que nos ajudam a manter o foco no fio condutor - a história do tio - pelo meio dos interessantes (aparentes e abrangentes) desvios com que nos vai presenteando.
Também a merecer destaque, a exitosa fuga aos lugares comuns, com frases deliciosas, que dizem tanto em tão pouco e dum modo tão original, como quando refere: "Eu observava atentamente o tio Benn. Conhecia o seu rosto do direito e do avesso. Quando estava bem, era como a Lua antes de termos lá poisado;"  e "Matilda precisava de tirar medidas ao apartamento de Roanoke, que herdara da tia, e levou Benn com ela para a ajudar a segurar na fita métrica." (respectivamente, pp. 154 e 188, sendo os sublinhados meus). 
Acresce uma particular evidência do fenómeno da intertextualidade, traduzido nas constantes referências a outros escritores (sobretudo, os clássicos franceses e russos, em linha, aliás, com a própria biografia do personagem-narrador, de formação francesa e professor de literatura russa).
E a razão do título? A este propósito e não querendo adiantar mais, limito-me a deixar, de resto, sem qualquer compromisso, umas frases em que fui reparando pelo caminho da tão grata leitura deste óptimo romance: "Bom... concordei que era mau, mas por fim disse: "É terrivelmente grave, claro, mas acho que morre mais gente de mágoa do que de radiação."" (p. 109); "E pode seguramente calcular-se que morre mais gente de mágoa do que de radiações atómicas, mas não existem movimentos de massas nem manifestações de rua contra ela." (p. 251); "- Não a afastou, Treckie, o seu comentário foi que morre mais gente de mágoa do que de envenenamento por radiação." (p. 404).
Quanto ao cerne da questão, esse, para mim, está sintetizado numa certa (e magistral) passagem, situada na página 395...
Alguém quer ler o livro, encontrá-la e deixá-la aqui em comentário? Gostava que alguém o fizesse ... e fico à espera!







  

sábado, 11 de julho de 2015

PALAVRAS CALADAS, GESTOS MUDOS


Não entendo o que te deu, de repente iniciaste um murmúrio, como quem reza a nenhum santo, como quem entrega palavras ao vento que passa devagar ou se limita a deixá-las cair, sem qualquer intenção de arremesso, nem zanga nem mágoa nem resignação, apenas um cântico da indiferença, da mera constatação, liberto de juízos, melindres ou acusações, como quem está tão de fora, do lado do além, que só pode ter mergulhado fundo, por dentro, ultrapassado as paredes de si e, com elas, o desgosto, o irrealizado, o conto dos amores desfeitos, e começaste a dizer: 

calam-se as palavras do desejo
poupam-se os gestos da ternura
prendem-se os beijos
desaprende-se o sonho
fecham-se os corpos, hirtos
apagam-se as luzes 
resta a penumbra 
uma réstia
resta uma réstia de penumbra
para ver
apenas
o filme
das ausências
para lá das ausências
na paz 
da simples
observação

Espantei-me para ti, como quem interroga, o que estás a dizer, isso é contigo, é de ti que falas, nessa abstracção de desenganos, nessa calma de quem reza mas não é a santos? E tu, nada, nem sequer me retribuíste o olhar! Já te perdias nas próximas palavras, talvez, nessa litania sem o ser. Vestiste o casaco, levantaste a gola, que estava frio, já ia estando frio, olhaste para fora e, de repente, já de saída, rodaste o corpo na minha direcção e disseste, sabes, apetecia-me chuva, que chovesse, quero dizer. Derramei-te a minha perplexidade, esquecendo-me que sempre gostaste de chuva e perguntei, sem jeito, chuva, apetece-te chuva, mas porquê? Já estavas de saída, nem ouviste a pergunta, já ias longe, mas continuava o tempo seco. Pensei e, ao mesmo tempo, disse, como quem reza a nenhum santo, como quem entrega palavras ao vento que passa devagar ou se limita a deixá-las cair, sem qualquer intenção de arremesso, nem zanga nem mágoa nem resignação, apenas um cântico da indiferença, da mera constatação, liberto de juízos, melindres ou acusações, como quem está tão de fora, do lado do além, que só pode ter mergulhado fundo, por dentro, ultrapassado as paredes de si e, com elas, o desgosto, o irrealizado, o conto dos amores desfeitos, disse:

cala-se a chuva
até a chuva se calou

Espanejo os cabelos,  e é a minha vez de sair, preciso de apanhar ar, visto o casaco, levanto a gola, que está frio, já vai estando frio, bato a porta, coloco os olhos em modo de ver e estás lá, e, como se nada fosse e nada importasse, dizes, estava à tua espera, vamos? Ou terá sido uma ilusão, porque, como começaste por dizer,  calam-se as palavras...  Calam-se as palavras do desejo, foi o que comecei por dizer - corriges. 

Seja, engolem-se as palavras do desejo... 







domingo, 5 de julho de 2015

À GRÉCIA, AOS GREGOS!


Quem frequenta este blog, sabe que a minha posição só podia ser esta: SIM (NAI) à Grécia, NÃO (OXI) à Alemanha! A UE vem por acréscimo, reduzida a uma enorme interrogação, mais de espanto que doutra coisa...







(As imagens de base - desenho das bandeiras - foram obtidas em pesquisa Google; a concepção e execução dos elementos gráficos acrescentados são de minha autoria)