terça-feira, 23 de agosto de 2011

terça-feira, 2 de agosto de 2011

A (MÍNIMA) FACE VISÍVEL

O caso BPN e a antevisão do que poderão vir a ser as privatizações que se seguem, a mando da troika e do sr. Passos Coelho e seu comparsa, sr. Portas, com a benção do sr. Cavaco, a herança de responsabilidade do PS e a incapacidade de reacção adequada e eficaz, por parte dos partidos ditos de esquerda, colocam-me, a mim, cidadã espoliada desta espécie de País ou Estado ou seja lá o que for, num estado de indignação tal, que não me permite ficar calada. 
Então, faço aquilo que posso, que é pouco e não servirá para grande coisa, a não ser para desabafar: MANIFESTO-ME, NO EXERCÍCIO DO MEU DEVER DE INDIGNAÇÃO. 
Assim, acabo de deixar, na minha página de FB, as palavras que passo a reproduzir:

"Alguém pode fazer o favor de me explicar?
Então o BPN foi dado, perdão, vendido aos angolanos ou ao sr. Mira Amaral (será, porventura, aquele que já vem do cavaquismo, fase I?) ou seja lá a quem for, por 40 milhões de euros, mas o Estado - para além daquilo que já lá meteu, à nossa custa, mas sem nos ter ouvido ou achado - ainda vai lá meter mais 500 mil milhões (ou 500 milhões?) de euros, bem como arcar com os custos das indemnizações dos trabalhadores a despedir e ficar com os activos tóxicos, quer dizer, com outro buraco sem fundo à vista?
Será assim? Ouvi bem?
A matemática ainda é o que era? É que, apesar de, nos meus tempos de Liceu, até ter boas notas nesta disciplina, NÃO CONSIGO COMPREENDER A MATEMÁTICA DESTE NEGÓCIO, ao menos enquanto 2 mais 2 for igual a 4.
E a DEMOCRACIA, quando passa a ser o que devia? É que, SE O FOSSE, IMPUNHA-SE:
- Por parte dos decisores políticos, ao abrigo do mais elementar DEVER DE PRESTAÇÃO DE CONTAS, uma CLARÍSSIMA EXPLICAÇÃO dos termos desta equação, com desenho, se necessário, para que os cidadãos - logo, contribuintes, logo, pagantes - ficassem completamente esclarecidos acerca dos RESPECTIVOS FUNDAMENTOS E BONDADE e, assim, pudessem reagir, nos termos que entendessem mais adequados;
- Por parte das entidades públicas/políticas competentes, um RIGOROSO APURAMENTO dos factos (acções ou omissões) que conduziram à situação que o BPN atingiu, sem que, aparentemente, as entidades de supervisão se tivessem dado conta, tendo em vista o APURAMENTO E EFECTIVAÇÃO DE RESPONSABILIDADES DOS CAUSADORES (por acção ou omissão, ainda que de vigilância/supervisão), aos vários níveis e títulos;
E, merecendo especial destaque (embora sendo um dos pilares da Democracia), quando passa a JUSTIÇA a ser o que devia, ou seja, quando encerra o processo alusivo ao caso, não de qualquer maneira - v.g., invocando falta de tempo para realizar diligências obviamente essenciais -, mas da maneira que se impõe? E esta maneira só pode ser uma: não se ficar, apenas, pela (mínima) face visível mas IR ATÉ ÀS ÚLTIMAS CONSEQUÊNCIAS, AOS ÚLTIMOS CULPADOS, SEJAM ELES QUEM FOREM E QUE CONEXÕES TIVEREM, e APREENDER AS RESPECTIVAS FORTUNAS, por forma a minimizar, de alguma maneira, os sacrifícios que são diariamente exigidos aos cidadãos, com particular impacto, como é sabido, nas classes mais desfavorecidas, incluída a classe média-aliás-em-vias-de-extinção. E isso tem que acontecer RAPIDAMENTE. E, dadas as características do caso, NEM PARECE QUE, TECNICAMENTE, SEJA TAREFA MUITO ÁRDUA. Basta pensar que não se tratava de nenhum organismo fantasma, antes de um banco estabelecido no País, com órgãos sociais e respectivos titulares perfeitamente identificados. E não era só um, como é do conhecimento público.
E, já agora, quando é que NÓS, POVO, passamos a ser o que devíamos, ou seja, a EXERCER O NOSSO DEVER DE INDIGNAÇÃO E DE MANIFESTAÇÃO CONTRA ESTE ESTADO DE COISAS, COMEÇANDO POR EXIGIR A PRESTAÇÃO DE CONTAS QUE NOS É DEVIDA?"



domingo, 31 de julho de 2011

ABOUT GIANNI

Gianni e as Mulheres, eis o título de um filme que está por aí, apesar de ser Verão, quase Agosto.
Estabeleço esta ressalva, porque qualquer cinéfilo que se preze sabe que a época estival não é a mais propícia à qualidade dos filmes em cartaz, antes pelo contrário. Todavia, achei Gianni ... um filme muito bom.
Fala-nos da inexorável instalação da idade e da devastação que a acompanha, servindo-se do caso de Gianni, um sexagenário (62) reformado, com uma vidinha sofrível, que, espicaçado por um amigo, mas sem grande convicção, tenta recuperar o fulgor da juventude.
Se o consegue ou não, não conto, pois também não gosto que me antecipem o final dos filmes (ou seja do que for).
Acrescento, apenas, a seriedade (ou realismo ou lucidez) com que o tema é abordado, oferecendo-nos, sem misericordiosas contemplações, a ideia de  que, se há traço diferenciador entre os humanos, esse traço é o que divide os jovens dos menos jovens (e os belos dos menos belos).
Sem dramatismos, até com laivos daquele humor (aqui, mais na vertente irónica) típico das comédias italianas - trata-se, aliás, de um filme italiano -, como fica patente na cena em que a bela ragazza diz ao protagonista ter sonhado com ele, um sonho belissimo, e ele, com o brilho do sorriso luminoso  a desabar em abrupta sombra, quando ela, com toda a naturalidade deste mundo e do outro, encerra,- sonhei que eras meu avô.
Imperdíveis, também, a cena do jogo de cartas das velhotas e a do viagra ... 

Isto, como, por certo, se deixa perceber, é a opinião de quem não acha graça nenhuma ao aparecimento de mais uma ruga, de mais um grama ou de mais um pingo de flacidez, e que, consequentemente, fica sempre perplexa (no mínimo), quando aquelas socialites  que dão (ou vendem) entrevistas, perguntadas sobre esta (tão desagradável) temática, respondem, invariavelmente, algo do género: - isso não me incomoda nada, até gosto, pois cada ruga que me aparece é testemunha (elas não dizem bem assim, pois não falam desta maneira ...) de uma experiência de vida. Mas isto é o quê, estão a enganar-se a elas mesmas ou, apenas, a pretender enganar os outros ou, talvez, as outras? Inclino-me para a segunda hipótese, pois, normalmente, já estão carregadas de plásticas.

Não me parece, contudo, prejudicado que outro tipo de pessoas apreciem o filme, pois sempre poderão desfrutar, descontraidamente, da diversão que o mesmo proporciona. E, repito, sentido de humor não lhe falta.

Mudando de onda: sobre os tesouros que a juventude e a beleza podem proporcionar (certo tipo de tesouros, entenda-se), pode ver-se (pois é um filme que se deixa ver e apenas isso) Confissões de Uma Namorada de Serviço
Confesso que, neste caso, aquilo de que mais gostei foi da decoração dos interiores (a casa do casal e a loja em que ela compra aquelas sóbrias e bonitas roupas e acessórios, com que desfila pelo filme) e da pequena amostra do Soho de NY.  Quer dizer, gostei do bom gosto formal. 
E ainda gostei de mais um pormenor, o recurso pontual à música de rua, como componente da banda sonora.  



NHAM, NHAM ...

Quem andou a inventar que eu não gosto, não sei e não quero saber cozinhar (mas não tenho raiva a quem gosta e sabe, até agradeço e aprecio)?

A título de desmentido, seguem alguns dos pratos gourmet, que confeccionei, certo dia de Março passado, em plena Comporta.

ovo estrelado em manto de seda e pregas de caviar


caranguejo abandonado em pérolas de areia cremosa


ovo desfeito em cama de alto mar com bandeiras desfiadas



mousse de pé afundado em creme de champanhe



Agora, é só provarem e dizerem qual preferem (se for o caso, of course).




LÍDIA JORGE, AINDA

Por um feliz acaso de zapping, fui aterrar à pista da SIC Notícias, onde deslizava uma entrevista à escritora Lídia Jorge, pela mão do António José Teixeira.

Belíssima entrevista, por sinal.

Desde logo, foi conduzida e correspondida com a sobriedade própria de pessoas cultas, inteligentes, educadas e serenas (como julgo ser o caso dos intervenientes).

Por outro lado, a substância (das perguntas e das respostas, naturalmente, com o maior peso que, no contexto, estas assumem) não ficou atrás do estilo, sendo, a propósito, de salientar a riqueza  temática, que, para além do mais, incluiu, desde a situação política e social do País a aspectos culturais de ordem mais ou menos geral (v.g., o papel da Língua Portuguesa, inclusive, na redenção do País,  e a transformação do Ministério da Cultura em Secretaria de Estado), passando por questões mais concretas, caso dos atentados na Noruega.

Tratando-se da 2ª vez que ouvi a Lídia Jorge, também desta senti tal oportunidade como um privilégio, sobretudo, pela inteligência (organização e profundidade do pensamento), pelo posicionamento actual e realista, mas também por aquela maneira especial que ela tem de procurar as palavras, para com elas melhor servir as ideias (parece-me).

Achei particularmente interessante a metáfora da centopeia com alguns pés doentes (incapazes de acompanhar o movimento do todo), que encontrou para a Europa (UE, entenda-se). Poderão dizer-me que é óbvia ou fácil, mas eu responderei, ... mas só depois de inventada.

Idem, em relação ao comentário sobre os massacres na Noruega, no sentido de que têm de ser lidos como uma metáfora, cabendo aos sociólogos e às entidades policiais estudar o seu significado (possível eco doutros focos xenófobos).

Por vezes, a preguiça que me conduz ao zapping (única maneira encontrada de, cada vez menos, sobrevoar a televisão) acaba por ter um final feliz. Felizmente, é raro isso acontecer.


sexta-feira, 29 de julho de 2011

A propósito de "A Noite das Mulheres Cantoras"

Segundo me parece, um bom romance há-de, necessariamente, sustentar-se numa boa história.
Claro que o suporte dado pela escrita, pelo aprofundamento das situações e, sobretudo, das personagens, também se me afiguram essenciais, embora num plano de instrumentalidade, em relação à história, propriamente dita.
Também é certo que outros elementos devem estar presentes, por exemplo, a forma de contar, em termos de despertar/manter/espicaçar o interesse pela sequência dos acontecimentos e seu desenlace.
Ora, aquilo que me surpreendeu em “A Noite das Mulheres Cantoras”, da Lídia Jorge (Publicações D. Quixote, Março de 2011), foi o facto de não ter detectado aquele primeiro elemento estruturante, ao menos nos moldes em que o concebo (note-se que a história que lhe dá título se arrasta, quase sem desenvolvimento, ao longo das primeiras 221 páginas, de um total de 317, para, a partir daí, e do seu fecho (ou desfecho), dar relevo à história – paralela, sobreposta, autónoma? - duma das personagens, Solange de Matos, cuja tessitura vem, aliás, sendo aprofundada, quase desde o início, em detrimento da das restantes, incluindo a própria maestrina, para já nem falar na Madalena Micaia …).
Ao que acresce o facto de o capítulo inicial se perfilar mais como uma barreira do que como um bilhete ou passaporte para a entrada na história. Ao ponto de me ter feito sentir a necessidade de o reler, uma vez terminado o livro. O que, de resto, me conduziu à comprovação de algumas chaves, que o mesmo já encerra, mas não daquela maneira apelativa, geradora de entusiasta curiosidade pelo que vem a seguir.
Porque prossegui, então, a leitura? Porque a levei até ao fim?
Por várias ordens de razões: em primeiro lugar, tinha tido a oportunidade de ouvir a Escritora, de viva voz, falar no processo criativo, o que me deixou maravilhada, quer pelo dito, quer pela maneira (a alma) com que foi dito; depois, o Professor do curso de Escrita Criativa em cujo âmbito ocorreu essa intervenção da Escritora, teceu-lhe rasgados elogios, aliás, reiterados por outras pessoas com as quais, entretanto, falei; por fim (e como corolário do que antecede), instalara-se em mim uma enorme curiosidade, acicatada, ainda, pelo facto de, lamentavelmente, nunca ter lido nada da Lídia Jorge.
Mas acresce uma razão maior, a de que, à medida que ia prosseguindo a leitura, aumentava o meu fascínio por aquela escrita, pela substância daquela escrita, como se estivesse perante um enredo feito de palavras e não de factos, bem como pelos pensamentos que, aqui e ali, iam deixando marca (de profundidade).
Esta razão levou-me a considerar que, excepcionalmente, a forma como a escrita é trabalhada, mas também, usada, para lançar um manto, ora de inquietação, ora de mistério, ora de encantamento, sobre a história que serve, é susceptível de constituir um elemento tão poderoso que consiga, por si só, engrandecê-la (apesar de curta, na sua dimensão evidente ou aparente) e suscitar aquele particular interesse pelo seu desenvolvimento e final.
Sendo isto o que sucede em “A Noite das Mulheres Cantoras”, acabo por o considerar um bom romance.
O que, obviamente, não passa de uma modesta opinião, pois, quem sou eu para ousar comentar, em tais termos, um livro marcado pela perfeição da escrita e da sua utilização, pela profundidade dos pensamentos deixados à solta, e pelo clima de inquietação, mistério e encantamento que, em conjugação sinérgica, dão corpo, dimensão e consistência a uma história como a das mulheres cantoras ou de uma sua noite ou de uma das cantoras?