Ontem, a Praia Grande estava assim, parecia uma praia do mar do norte. Enigmática, sombria, nostálgica. Belíssima, como sempre.
Captei umas imagens que, vistas em sequência, me sugeriram um filme. Deixo-as a seguir, precedidas dum argumento possível:
Assim acontece com certas pessoas. A princípio quase não se deixam ver. Insinuam-se, apenas, semi-encobertas (semi-descobertas?) por uma esquina do mundo.
Imagine-se uma folha de papel, dobrada em guardanapo.
Depois avançam, porque a vida é isso. A vida é comando. não se compadece com paragens. Ainda que os passos sejam lentos, possam ser lentos, reflectidos.
Imaginem-se umas mãos elegantes a desdobrar um guardanapo sobre os joelhos. Movimentos suaves, pensados, quase calculados.
Praticamente indiferente, se há ou não testemunhas do percurso. Há pessoas assim. Desdobram-se das esquinas do mundo porque tem de ser. A vida é isso, um ter de ser. Portanto não podem deter-se. A não ser para pensar. A vida também é pensamento, não é apenas caminhar à toa, caminhar por ter de ser.
Imagine-se um guardanapo displicentemente pousado nuns joelhos. Os vincos distenderam-se. Aguarda, apenas. Sabe o que o espera. Está preparado para o que o espera. Não serão os seus vincos as esquinas do mundo?
Depois há o momento da paragem. Contemplar, esbater as esquinas do mundo. Deixar-se contemplar ou não. Tanto faz. A vida cumpriu-se. A vida também é paragem, detenção.
Imagine-se um guardanapo, de esquinas já desfeitas, tranquilamente abandonado sobre a mesa.
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