terça-feira, 23 de maio de 2017

PERDA


Rostos desfilam-me, claros, nos horizontes da memória
Rostos idos, entenda-se
Retidos num sorriso, numa exclamação, ou noutra expressão determinada
Suspensos nas pregas do tempo, imutáveis, vívidos

Outros rostos, os mais queridos, desvanecem-se, em sombra, nos horizontes da memória
Ameaçam perder-se para sempre
Ocultos nas esquinas do tempo, deslavados, fugidios
Revelam-se apenas por ínfimas parcelas
Uma boca, uns olhos, o mero esboço dum gesto perdido
Em vão, tento recuperar-lhes a voz, o olhar, o sentido
Sim, em vão

Recorro aos registos fotográficos
Desesperada forma de suprir a fuga destes rostos
Baralho-me nos horizontes da memória
Já não distingo o que lhes pertence e o que ficou simplesmente registado

Ocorre-me a palavra perda, formulo-lhe o pensamento
É isto a perda
Um tremendo animal que se alimenta de grandes esquecimentos e de pequenos truques


(Vídeo obtido em pesquisa no YouTube)








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