terça-feira, 14 de maio de 2019

FORMIGAS DE VERNIZ ALADAS


seguro um pedaço de tempo
escorrega-me das mãos
cai
chão
espatifa-se em mil fragmentos
grito
não eu
ouve-se um grito
soltam-se estranhas criaturas


formigas de verniz aladas

sapos atravessados por setas de cupido
nunca viraram príncipes
talvez medo
ou outra poderosa razão
pobres delas
meninas de conto de fadas
na esperança de milagres

donzelas de alvos mantos gotejados de carmim
ai como é bom ousar, diz uma
para dentro de si
ainda ignorante de arrependimentos

sóis de queimar peles desprevenidas
todavia felizes
por isso felizes

pássaros a cantar em brados e em bandos
é o tempo do gozo colectivo

fixo os olhos no chão
que espanto!
fragmentos reunidos
aquele pedaço de tempo em minhas mãos 
recolheu-se e partiu
não voltará
aquele pedaço de tempo
aquele exacto pedaço de tempo
voou com as formigas
e os sapos
e as donzelas 
e os sóis
e os pássaros
e o que mais

eu fico
ainda







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