Tinha avisado que mal podia esperar!
Assim, ontem, dia da estreia, corri a ver a nova (e 50ª!) longa metragem do Woody Allen, realizador (e actor) que tanto aprecio e que, ora com mais ora com menos brilho – quase sempre com mais! –, sempre me fascinou e inspirou: com as suas histórias criativas e repletas de sentido, o seu humor inigualável (em inteligência e estilo), as selectas bandas sonoras, a primorosa escolha e direcção de actores – com os quais, ao que consta, mantém uma fria e intransponível distância, motivo não impeditivo de sempre conseguir dos mesmos notáveis registos, muito próprios, muito seus –, a excelente realização, etc.
Este filme, "UM DIA DE CHUVA EM NOVA IORQUE", pareceu-me uma síntese da obra do Autor, em momento (ou modo) de reconciliação.
Na verdade (e, por razões óbvias, sem pretender entrar muito em detalhes), assistimos: ao regresso à sua cidade, Nova Iorque; como pano de fundo, uma história de amor (desamores/traições incluídos, of course); paradigmáticas referências a sessões de psicoterapia, no contexto duma relação filial difícil; recurso ao humor como um sublinhado intermitente, todavia contínuo, enquanto modo de reflexão sobre a própria vida; atracção criador/musa. Porém, o que verdadeiramente caracteriza o filme é que tudo isso vem envolvido como que em etéreo manto de candura, tecido de nostalgia e ternura pungentes, enfim, de romantismo – e a chuva, a abençoada chuva e todo o cinzento envolvente, como símbolo, se não protagonista. Ao que acresce, em idêntico registo, a reconciliação filho/mãe – fornecidas que são, por esta, com sinceridade e coragem, as suas razões ou justificações –, que permite, por fim, o amadurecimento daquele, traduzido na descoberta (revelação?) do que quer (para além da consciência do que não quer...).
Em certo sentido, poderá considerar-se obra quase de adolescente, dada a frescura e abandono do cinismo, dado o romantismo. Todavia, logo se surpreende uma enorme maturidade – sem a qual, aliás, nunca seria possível atingir um tal nível de simplicidade, diria mesmo, de perfeição.
Afigura-se-me que "UM DIA DE CHUVA EM NOVA IORQUE" recolhe a espuma de toda a filmografia do Autor, mas uma espuma leve e elegante, talvez como a que se eleva dum suave cappuccino. Neste sentido, pode, pois, falar-se em filme-síntese – à semelhança, aliás, do último e magnífico "DOR E GLÓRIA", de Pedro Almodovar, pese embora a diferença de abordagens, em que, à angústia patente neste, se opõe, naquele, a suavidade e um certo apaziguamento, diferença que, por certo, radica nas distintas personalidades e experiências dos dois realizadores, mas, sobretudo, nos momentos de vida em que cada um se encontra – pela ordem natural das coisas, mais perto do fim, no caso do Woody Allen (embora isto não passe de mera suposição...).
Num caso como no outro, espero que não se trate de despedidas, aliás, angustia-me podermos estar perante filmes-testamento...
Por último, não pode deixar de se evidenciar a magnífica interpretação dos jovens actores, Elle Fanning e Timothée Chalamet, sobretudo a deste, que, de resto, já evidenciara notório talento, designadamente, em "CHAMA-ME PELO TEU NOME" (de Luca Guadagnino), filme tão surpreendente quanto belo. Também a prestação da Selena Gomez, embora num papel menos relevante, é digna de aplauso.
Longa vida a Woody Allen! Que volte sempre (pelo menos uma vez por ano)!
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