quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

POBREZA MENSTRUAL...

...OU SERÁ POBREZA MENTAL?

Há tempos, num zapping pela TV, deparei-me com uma jovem, ao que percebi deputada (ignoro por quem e porquê), a perorar sobre "pobreza menstrual". 
Obviamente – acho eu! – fiquei perplexa e, ao mesmo tempo, curiosa, sobre o significado de tal expressão. De tal forma que nem me ocorreu qualquer significado possível, por exemplo, baixo caudal menstrual (como uma amiga a quem contei, por certo mais criativa do que eu, sugeriu).
Felizmente, a entrevistadora, ciente da burrice ou falta de imaginação de espectadores (ou deverei escrever espectador@s?) como eu, pediu gentilmente à entrevistada que explicasse do que falava. E foi aí que se fez luz: "pobreza menstrual" é a situação em que se encontram as mulheres – suponho que os homens ainda não sofrem essa carga mensal – carentes de meios económicos para suportar as despesas com os artigos de higiene, vulgo, pensos/tampões higiénicos e afins, necessários durante a menstruação.
Logo uma outra convidada do programa, abanando afirmativa e compungidamente, a cabeça, referiu que até havia quem recorresse a pão para fazer as vezes de penso higiénico…
Desliguei, de imediato, a televisão, não me fosse aparecer outro assunto do género, logo a mim, que só procurava uma série policial ou um filme de jeito.
A situação em causa é, obviamente, do mais lamentável, triste e revoltante que se pode imaginar. Só que, em minha opinião, tem apenas um nome: pobreza! Não é dela que aqui trato, até porque, infelizmente, por mim só, não disponho de competência ou capacidade para a resolver.
Trato, antes e apenas, da questão ou abordagem terminológica.
É que me irrita solenemente esta tendência, entroncada no execrável, porque hipócrita e hitleriano, politicamente correcto, de atribuir certos nomes às realidades, como se assim ganhassem uma importância que doutro modo não alcançariam, no pressuposto de que só os utilizadores dessa nomenclatura estão habilitados ou titulados a invocar as realidades subjacentes, sendo, por outro lado, banida a terminologia habitual, como menor e desadequada. Existe, ainda,  uma certa provocação no uso de dadas palavras como expressão de uma afirmação de princípio — de que devem ser empregues para se atingir o cerne das respectivas problemáticas. Enfim, uma espécie de pensamentos mágicos!
Ora bem, segundo me parece, uma pessoa que não dispõe de dinheiro para prover os bens necessários à higiene durante a fase menstrual é, pura e simplesmente, uma pessoa pobre. POBRE. E pobres não deviam pura e simplesmente existir, aliás e para evitar mal-entendidos, a pobreza, na sua abjecção social e moral, não devia existir ou, sequer, ser admissível!
Então para quê autonomizar essa faceta da pobreza? Será que providenciando pensos higiénicos a essa mulheres pobres elas deixam de ser pobres? Não me parece.
Resta ainda outra questão: uma vez autonomizada tal expressão da pobreza, porque não autonomizar as restantes, por exemplo: pobreza fecal (falta de dinheiro para papel higiénico) ou pobreza ranhosa (falta de dinheiro para lenços)… Ridículo, não é?
Por falar em ridículo, querem saber outra? Agora não é de bom tom contrapor mulher a homem, devendo aquela ser designada como "pessoa com vagina" e este – calculo – como "pessoa com…". Bem, fico-me por aqui, que já basta de parvoíce.




 


5 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Muito bem! Todos especialistas, seja qual for a técnica/ciência a que se dedicam, gostam de criar o seu próprio "jargão técnico". Faz parte da sua criação !!! Quando ouvi pobreza menstrual, pensei que fosse outra designação da menopausa, mas depois refleti e, realmente, a menopausa deve ser riqueza menstrual :-)

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    1. Pois é, Lailai, a “ciência” do politicamente correcto e seus derivados é muito criativa e... parva! 😀😊

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  3. Nem sei que diga duma situação completamente ridícula. O que fariam as nossas avós, uma vez que os pensos higiénicos só foram inventados há tão pouco tempo, assim com o papel higiénico?

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    1. César, para mim, o verdadeiro ridículo está nesta necessidade de criar “temas”, de preferência “chocantes”, mediante o recurso a subterfúgios (no caso, a terminologia chamativa), como se a realidade, por si só, não ultrapassasse estas ficções, e sem qualquer efeito útil...

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