Assim fui ver o filme intitulado LAST VEGAS!
Porque fui? Pelo facto da interpretação estar a cargo de quatro grandes actores, Robert De Niro, Kevin Kline, Morgan Freeman e Michael Douglas.
Razão do engano? A expectativa de que um tal elenco fosse garantia de qualidade.
É óbvio que, caso não andasse tão distraída, teria dado atenção à sinopse e resistido à promessa das performances interpretativas dos ditos actores.
Na verdade, o que esperar dum argumento em que se largam quatro velhos amigos, não só velhos amigos, mas amigos velhos, na patética mimetização da despedida de solteiro dum deles, que, prestes a completar 70 anos, se prepara para casar com uma mulher de 30? Para mais, no estapafúrdio cenário de Las Vegas, a tão feérica quanto idiota e artificial Las Vegas.
Na verdade, o que esperar dum argumento em que se largam quatro velhos amigos, não só velhos amigos, mas amigos velhos, na patética mimetização da despedida de solteiro dum deles, que, prestes a completar 70 anos, se prepara para casar com uma mulher de 30? Para mais, no estapafúrdio cenário de Las Vegas, a tão feérica quanto idiota e artificial Las Vegas.
Está bem, a ideia terá sido a de abordar o tema da velhice, em perspectiva humorística. Mas uma coisa é a ideia, outra a concretização. Ou seja, o filme tem tanto de humor como este post de elogio. Tem, sim, um enredo fraquíssimo e sentimentalóide, sustentado por uma série de clichés.
Sucede que, para muitas pessoas, envelhecer é lixado! Primeiro, porque quando se dá conta, já é demasiado tarde, assim tipo, um belo dia, sem mais nem menos, olha-se para o espelho e constata-se - olha, parece que esta era eu! ou - parece que já fui! CHOQUE. Depois, começam a ouvir-se, cada vez com mais frequência, elogios póstumos, assim tipo - Você era um espanto! ou - Não, não estou a ver quem é, mas deve ter sido muito bonita! (Juro que se passou comigo e fingi um ar tão melindrado que ele corou por assim dizer até à raiz dos cabelos e acrescentou - ainda é. Só aí comecei a rir, já receosa de que lhe desse um AVC). CHOQUE. A seguir, de cada vez que se fita um espelho - e, estupidamente, há espelhos por todo o lado, nem que seja a superfície das montras - adquire-se um novo traço de identidade, quer dizer, uma manchazinha castanha, uma ruga aqui, outra ali... CHOQUE. Chego a pensar se estes traços de identidade não deveriam substituir as impressões digitais no cartão de cidadão definitivo. Há mulheres sábias que dizem não se importar, teorizando que cada ruga é testemunho dum episódio de vida. Não é, seguramente, o meu caso. E também não creio ser o delas, a avaliar pela quantidade de plásticas, botox, ácido hialurónico e afins que, as mais das vezes, levam em cima.
Quer dizer, isto do processo de envelhecimento (PdE), ao menos enquanto não surgem as maleitas corporais, resume-se a uma questão estética. Esta é a minha teoria. Ou seja, uma pessoa sente-se muito bem, muito fresca, muito criativa, muito viva, e, na primeira esquina, dá de caras com um espelho e ... CHOQUE. O grau de arrelia do PdE está, assim, na proporção directa da elevação estética de quem o sofre. E da vaidade. E da glória passada. Em síntese, quanto maiores forem as aspirações estéticas, a vaidade e a beleza falecida, mais lixado é envelhecer.
Mas, entenda-se, a razão de ter ficado lixada com o filme não foi o tema, mas a sua pobreza estética e intelectual.
Diferentemente de dois outros filmes sobre a mesma temática, de que aqui dei testemunho: GIANNI E AS MULHERES ( post de 31 de Julho de 2011, ABOUT GIANNI) e QUARTETO (post de 16 de Junho de 2013, ABOUT QUARTET).
Bem, o espelho reclama-me (não vá ter surgido mais um traço de identidade).
...
Sem comentários:
Enviar um comentário