sábado, 22 de abril de 2017

FOLHA EM BRANCO


uma gaivota convenceu-se que era pessoa, bicou uma nuvem e convenceu-se que era algodão doce. agradou-lhe o sabor, sentiu-se feliz, deliciada.

uma pessoa deu um salto e mergulhou a cabeça um pouco abaixo da superfície eriçada do mar, convencida que era gaivota. esticou os lábios e apanhou um pedaço de plástico brilhante (o brilho era mero efeito do reflexo solar). convenceu-se que era um pedaço de sushi. sentiu-se indisposta, agoniada, com a garganta a arranhar, do lábio superior correu-lhe um fio de sangue. passou a detestar sushi.

moral da história?

antes gaivota por um voo que pessoa por um mergulho

antes gaivota otimista que pessoa pessimista

o algodão doce tem uma textura e um sabor cem vezes mais agradável que o plástico

o sonho é que conta, a realidade só atrapalha

a poluição das nuvens nota-se menos que a do mar

as aparências iludem (mas isso já era sabido…)

se não tens imaginação, inventa

para um escritor inexiste folha em branco (existem, sim, folhas queimadas, ressequidas, desfeitas em nada, que podem ser restauradas, nem que seja à custa de palavras, apenas palavras, umas a seguir às outras, embora desligadas de sentido útil... ou lógico... ou real)

nem tudo o que se diz é verdade








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