E disse que nem sequer pudera dar-lhe um último abraço, como se não fosse óbvio que nunca se consegue dar o último abraço!
Não me lembro onde ouvi ou li aquela frase. Posso até ter sido eu a pensá-la, sei lá!
Apenas estou certa de que nunca se consegue dar o último abraço.
Pela simples razão de que ninguém está interessado no último abraço! O último abraço é o que sela uma união partida, é o abraço para nunca mais - por exemplo, eu para aqui, condenada a permanecer neste mundo, e tu para ali, de partida para a lonjura do desconhecido sem regresso, sem possibilidade de regresso.
Pela simples razão de que ninguém está interessado no último abraço! O último abraço é o que sela uma união partida, é o abraço para nunca mais - por exemplo, eu para aqui, condenada a permanecer neste mundo, e tu para ali, de partida para a lonjura do desconhecido sem regresso, sem possibilidade de regresso.
Por outro lado, o último abraço é um mito. Não, é uma aspiração do desejo, o desejo que brota da nostalgia, dos confins do aconchego perdido.
Portanto, quando te vi pela última vez e te abracei ou não te abracei, não é verdade que esse tenha sido o último abraço, e também não constitui motivo para me lamentar, mais tarde, no tarde da autocensura (autocomiseração?), de não ter podido (ou conseguido?) dar-te o último abraço.
Entendes-me? Penso que sim. Afinal, até tu, apesar da grande generosidade dos teus afectos ou talvez por isso mesmo, deves ter sentido que não pudeste dar algum último abraço. Igualmente por isso, pela generosidade dos teus afectos, nunca me dirias que te falhei o último abraço. E como gostaria de o ter dado!
Não, não gostaria nada de ter dado esse abraço! Quem está interessado em abraços que selam a separação fatal, definitiva?!
Queria, mesmo, era ter continuado a abraçar-te, abraçar-te hoje, amanhã e até sempre.
Por isso, resolvi prodigalizar os meus abraços. Não a torto e a direito, mas a quem gosta de os receber e retribuir. Inspirada em ti, embora aquém de ti!
Mas sei que nunca nenhum abraço será o último!
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