terça-feira, 16 de julho de 2019

AO CUIDADO DO DR. CENTENO


Entretanto, numa qualquer Repartição de Finanças, em Lisboa...

Chego às 13,50H, dirijo-me ao distribuidor de senhas. Esgotadas!

Explico a uma funcionária que venho em cumprimento duma notificação motivada por divergências na declaração de IRS e que, não obstante a inexistência de senhas, tenho mesmo de ser atendida, pois estou doente e vim da cama para aqui, de propósito (argumento que se me afigurou mais cauteloso e eficaz do que o verdadeiro, ou seja, que me parece inadmissível o cancelamento de senhas a mais de duas  horas do encerramento dum serviço...)

Indiferente, a funcionária encaminha-me para os colegas do IRS. 

Repito a cena, com o ar mais sofredor de que sou capaz (sempre ajudado pela minha proverbial brancura láctea), na esperança de induzir alguma compaixão — que, em certas circunstâncias, funciona melhor do que o apelo à justiça e aos direitos.

A funcionária, gelada como um bloco de granito e mais mal encarada do que uma bosta de vaca, responde-me que não há senhas e que, se quiser, vá falar com a chefe, que está ali ao lado.

Assim faço, aliás com o ar mais cândido e desamparado que consigo simular!

Visto estar a atender, espero que fique livre. Terminado o atendimento e apesar de bem me ter visto, mergulha as trombas não sei em quê, até que, delicadamente, a interpelo. Dirige-me um olhar que transcende o gelo da colega. Mais parece um cão raivoso, no caso, uma cadela. A surpresa (genuína) transparece no meu olhar: não vislumbro motivo para merecer um tal atendidmento, por parte de uma criatura que está ali para me prestar um serviço, cujo custo, incluído o vencimento dela, é suportado por mim e pelos demais contribuintes — meaning, quando sou simultaneamente sua cliente e patroa.

O meu olhar deve ter sido tão transparente que, mesmo sem dizer nada, entende por bem justificar-se: "É que eu não chamei ninguém”. Pudera, mesmo que tivesse chamado, não seria a mim, que não tenho senha... 

Debito a minha história pela terceira vez.

Retoma o ar agressivo para me dizer que podia ter tratado o caso no portal das finanças e que não posso pretender passar à frente dos outros. Explico-lhe que não quero passar à frente de ninguém, quero apenas ser atendida, manifestando, aliás, estranheza por já não haver senhas. Diz-me, altiva e arrogante, que as senhas já esgotaram há muito tempo!

Embora cheia de vontade de a mandar à merda ou para pior, limito-me a pedir o livro de reclamações. Diz-me, então, que, se quiser, posso esperar para ser atendida no fim de todos... sem senha... se houver tempo! Insisto no pedido do livro de reclamações!

Nesta altura, um homem aproxima-se e disponibiliza-me uma senha. Agradeço. Meio aparvalhada, ainda lhe pergunto se não lhe faz falta (como se este mundo estivesse povoado de bons samaritanos!). Responde-me que não e mostra-me outra senha... para o mesmo serviço. 

Acho estranho, mas não ouso fazer perguntas. Todavia, ocorrem-em: porque haverá uma pessoa de ter mais do que uma senha para o mesmo serviço, quando há pessoas sem senhas? Será que há um serviço de tráfico de senhas?  

A funcionária diz-me que posso usar a senha oferecida pelo homem (pudera não!!!), mas não lhe coloca a questão, óbvia, que me ocorreu.

Ao contrário do que é meu hábito, não insisto no pedido do livro de reclamações. Ponho-me, furiosamente, a escrever estas linhas, no iPhone (o que não dá jeito nenhum, mas serve para desabafar). 

Quando, finalmente, sou atendida, a funcionária demonstra uma santa ignorância, deixando-me plantada por duas vezes, enquanto vai não sei onde tirar dúvidas. Até que chega e me devolve os documentos que levei, com a simples frase, "já não preciso disso", com o que pretendia significar que a questão estava resolvida...

Vim dali a interrogar-me, em modo de lamento: porque será que alguns serviços públicos continuam a funcionar tão mal?!

Apenas um parêntesis para referir, em abono da verdade, que o serviço de apoio telefónico das Finanças (associado ao respectivo Portal) funciona bem melhor, quer em termos de educação quer em termos de competência dos funcionários, pelo menos os que me têm calhado!







4 comentários:

  1. Realmente, às 15:50h não é uma horário civilizado para um bom cristão ter que se sacrificar a ir às Finanças... É uma incompreensão total ��

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    1. 13,50 e não 15,50, sff... 😀
      Obrigada pelo comentário, César!

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  2. ae ainda se queixam dos serviços de saúde. As senhas nunca acabam😊

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    1. É mesmo, Alexandra! E até vai passar a haver consultas aos sábados... :)

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