hoje, não venham todos com ar de festa
a porta é estreita, a divisão curta e o horizonte confina-se a um simples postigo liliputiano
que é feito das portas largas, das janelas amplas, abertas de par em par para a vastidão de paisagens ignotas e intermináveis?
não tragam garrafas nem risos nem brindes nem presentes
que o futuro estreita-se, emoldurado num exíguo postigo duma qualquer traseira
rectifico, tragam garrafas e risos, sobretudo risos, apenas os presentes se dispensam – por desnecessários, em sua vã fatuidade
hoje, venham com risos, rir é o que combina com esta imensidão de nada
tragam garrafas cheias de esquecimento, pois recordar não é viver, mas morrer mais um pouco, evitável quando a morte acena aqui tão perto, recortada nas linhas estreitas e obtusas do postigo deste final anunciado
mas venham, venham!
bebamos das garrafas e alimentemo-nos do riso, porque hoje é hoje e já não há amanhãs que cantem (ou que chorem, espera-se!)
e, sobretudo, porque isso não importa nada
Sem comentários:
Enviar um comentário