Por vezes é uma simples palavra e lá estou eu a cavalgar no sonho. Normalmente sucede com palavras que sugerem lonjura, mistério, contraste, isolamento, espiritualidade... E não, não me refiro às palavras dos livros, embora também estes me levem por mundos paralelos (exteriores, interiores?) e me pareça que não posso passar sem eles - afirmação esta, aliás, não verídica, pois, sendo necessário ou imposto, acabamos por nos render a toda a espécie de ausências, é a genética da sobrevivência, tão marcada nos humanos e, de resto, em todos os seres. Mas não, não me refiro a livros, antes a viagens.
Assim se me têm imposto muitas delas, por via do apelo duma palavra, dum nome, não um qualquer nome, mas, repito, um que sugira lonjura, mistério, contraste, isolamento, espiritualidade... ou qualquer outro dos motivos que me despertam a necessidade (urgência, desespero?) da partida.
A partida, a viagem, corresponde a um estado ideal, próprio da latência do sonho, ao qual chamo em trânsito. Trata-se duma espécie de suspensão, em que é possível libertar o espírito e o pensamento, sobrevoar as nuvens, cintilar para além das estrelas, confundir-se com as árvores, aproximar-se da estranheza e da profundidade, flutuar sem linha de partida ou de regresso, como se, apenas como se...
Ah! impõe-se esclarecer, tais palavras têm a ver com natureza e com diferença, não são as que me puxam para as metrópoles, embora também ame pendurar-me nas metrópoles, mas aí é diferente, aí o apelo é o movimento, a agitação, as realizações humanas, feitas arte ou outra coisa qualquer, enfim, não se trata do sonho, trata-se dum propósito, não se trata de fusão mística, mas de devorar a realidade.
Essas palavras são, por exemplo, Escandinávia, Alaska, Japão...
A palavra concreta de que agora falo é Islândia, I-C-E-L-A-N-D!
Na verdade, a palavra fala por si, soletra um conjunto de paisagens e visões susceptíveis de me levantar em voo, poisar em modo de flutuação, e constatar a veracidade do apelo, enfim, da sedução.
É espantosa a riqueza, variedade e força cénica das paisagens islandesas. Sonhei com elas durante uns tempos, desta vez, talvez cerca de um a dois anos. Depois parti, entretanto voltei, e, enquanto não reduzo as maravilhosas memórias da viagem à condição de testemunho escrito - que, talvez, vá partilhando por aqui -, deixo algumas das muitíssimas imagens que por lá captei, naquela espécie de ilusão de materializar o estado de sonho, prévio e determinante do estado de em trânsito e, mediatamente, do estado de regresso à realidade. Apesar de prosaico, talvez banal, este estado também possui a sua valia, porque a realidade já nunca será a mesma, enriqueceu, pelo caminho, quer dizer, não propriamente a realidade, o viajante, neste caso, eu...
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