Mais de três meses da coisa! E o desconhecimento de quanto mais tempo teremos de viver com ela entre nós (ou, mesmo, connosco).
E tanta coisa (ou tão pouca) pelo caminho!
Vou, aqui, relembrar o episódio do teste: estávamos no início de Abril e, certo dia, acordei sem forças, prostrada, com uma ligeira dor de garganta, um pouco de tosse seca e o nariz entupido. Enfim, a desagradável sensação de infecção respiratória das vias superiores (como o médico costuma diagnosticar), a que, aliás, sou muito atreita e que, em circunstâncias normais, teria tratado do modo habitual, ou seja, com Brufene 600.
Todavia, não estávamos em circunstâncias normais, a coisa, de seu nome Covid-19, instalara-se entre nós há pouco mais de um mês e corriam ainda as mais variadas versões a seu respeito – coisa que, aliás, ainda hoje sucede, só que já não se liga nenhuma, porque, se é para ficar na mesma ou baralhado, é preferível não ligar. No que respeita à situação concreta, corria o boato (ou não boato, vá-se lá saber!) de que o dito medicamento não deveria ser tomado em caso de se padecer de Covid. À cautela, abstive-me de o tomar, ficando-me pelo paracetamol.
Talvez por isso, a mazela prolongou-se por mais tempo do que seria normal e, aí pelo terceiro ou quarto dia, decidi recorrer ao meu médico. Como não estivesse a dar consultas, entendi por bem estrear-me na Linha SNS24. Não estava, obviamente, convencida de ter contraído o vírus, mas, em bom rigor, também não o podia excluir.
Logo à primeira chamada e aos toques inicais, fui atendida. Após um interrogatório que se me afigurou mais de natureza geral do que dirigido à concreta sintomatologia descrita, a senhora enfermeira corroborou a minha decisão de não tomar o Brufene e anunciou-me que tinha de fazer o teste. Ainda aleguei que talvez não, afinal não tinha febre, etc. e tal, mas ela foi peremptória.
Passadas umas horas, recebi, via comunicação electrónica, a pertinente requisição e a página da DGS com a lista dos locais onde poderia fazer o teste.
Não pretendendo dirigir-me a um Laboratório – com receio de aí apanhar a coisa que estava convencida de não ter –, ainda admiti optar pela realização no domicílio, mas rapidamente afastei tal hipótese, quando me ocorreu que poderiam aparecer-me à porta armados em heróis espaciais e criar na vizinhança um alarme desnecessário (do qual eu não deixaria de ser a vítima).
Decidi-me pela solução intermédia, Drive Through (realização do teste sem necessidade de sair do carro), uma fórmula cómoda e segura, tanto mais que precedida da adesão a uma app, com introdução, na mesma, de todos os elementos relevantes.
Lá fui eu na boa, convencida de que aquilo não custava nada, até porque nunca sofri dor ou desconforto com o uso de cotonetes, embora, até então, só as tenha usado nos ouvidos, e também porque, nas séries policiais, nunca ouvi ninguém queixar-se (de dor ou desconforto) pela recolha de ADN com o dito tipo de utensílio. A realidade mostrou-se, todavia, diferente. Quando me disseram para respirar fundo, nunca imaginei que fosse para conter a dor... Sem mais delongas, aquele pau comprido enfiado pelas narinas acima... ou abaixo, quando toca lá atrás, em cima ou em baixo – não sei onde, mas, a mim, pareceu-me nos miolos – doeu-me "pra" caraças, obrigando-me a mexer, involuntariamente, a cabeça, o que motivou a necessidade de nova ferroada. Às tantas, soltou-se-me uma lágrima, não de choro – que não sou dada a dramas –, mas reactiva à intrusão do palito agressor.
Já à saída, como o nariz me doesse, perguntei a um enfermeiro se aquilo era normal. Respondeu-me que a dor passaria em breve e, ao meu desabafo de que não imaginara tratar-se de um processo tão doloroso, respondeu que sim, que também lhe tinha doido muito e até tinha chorado imenso. Mariquinhas, pensei.
Regressei a casa a imaginar que, porventura, não haveria melhor forma de induzir as pessoas a respeitarem as normas da DGS do que consciencializá-las do quanto custa efectuar o teste. Ainda admiti fazer chegar a sugestão à Dr.ª Graça Freitas, mas tive receio de que, às segundas, quartas e sextas, ela aderisse e às terças, quintas e sábados anunciasse que o teste, afinal, não custa nada, o que poderia baralhar as pessoas e ser contraproducente.
Durante o período em que aguardei o resultado, desejei secretamente que fosse positivo, tanto mais que, entretanto, os sintomas foram-se esbatendo e seria maravilhoso ter vencido o Covid-19 com tão pouco custo (excepto as dores do teste, mas, convenhamos, a sua duração é mínima). Todavia, para destruição das minhas fantasias, o resultado foi negativo!
Até o obter, fui diariamente contactada, por telefone, por uma médica do SNS (mas só a partir aí do quarto dia da minha chamada para o SNS24, porque, alegadamente, antes não houve disponibilidade).
Moral da história: se voltar a ter síndrome de infecção respiratória não ligo para a linha de saúde 24 – a não ser que me falte o ar e, neste caso, se conseguir falar! Não porque o SNS tenha funcionado mal, antes pelo contrário – excepto no tocante ao atraso no contacto da médica –, mas porque não quero submeter-me a novo teste (Uff!).
Agora, já em maré de desconfinamento, ainda queria falar dos meus progressos no regresso à vida, mas como este post já vai longo, deixo para o próximo.
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