sábado, 4 de julho de 2020

O FIM DA PRIMAVERA


Esta Primavera dói, magoa, arrasa. O meu coração já não tem força para esta Primavera, que me dói, magoa, arrasa.
O meu coração só teve angústias de Primavera e agora, justamente agora, estava disposto a dar saltos para além do pico do alto do vulcão.
Mas o quê, que sucede? Nada. Pior, que ao nada estava ele habituado!
Eis que surgiu um imprevisto de promessa, de esperança, e ele, meu coração, deixou-se levar, pendurou-se numas asas de mentira, como há muito não se tinha deixado pendurar.
 As asas romperam ao primeiro esboço de voo e ele tombou. Desde então, não tem parado de rolar, por aí a baixo, esfrangalhado, embrulhado nas brumas duma angústia muito antiga, misturadas com o veneno da desilusão tardia, demasiado tardia para se poder considerar mero acidente.
Digamos que nem chegou a ser hipótese, mas sucedeu como se a última hipótese. Qual aposta perdida!
 O meu coração encalhou na garganta e ficou preso num grito tão surdo, tão surdo, que se faz ouvir por todo o Japão e arredores. Deteve-se lá nas encostas esfumadas do belo Monte Fugi.
Raio de sina a do meu coração! Se eu pudesse, se estivesse nas minhas mãos, acabava de vez com a Primavera. Mas apenas para mim.
(Texto de Abril de 2014)






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