O Covid-19 instalou-se no nosso país no passado dia 2. Entretanto, acabou por nos mandar todos recolher ao covil – todos, não, infelizmente alguns sofreram destino menos bom.
Escrevo, pois, do covil, no que talvez pretenda ser uma espécie de diário (eu, que nunca mantive um, apesar de escrever o que me passa pela mona desde a adolescência!) Digo, talvez pretenda ser, porque não estou em condições de garantir tal tipo de assiduidade, primeiro, porque sou indisciplinada e a minha rotina consiste na falta de rotina, segundo, porque, neste confinamento, é bem possível que a matéria de escrita escasseie. Quiçá passe a semanário, mensário, anuário, etc.
Por exemplo, hoje, ainda nada de significativo há a registar.
Em contrapartida, ontem acordei com a animadora notícia de que o vinho pode curar o maldito vírus!
Fiquei, obviamente, encantada, não porque precise de autorização ou fundamento benigno para beber. Aliás, nem tenho por hábito beber (embora por razões dietéticas, pois é sabido que o vinho engorda), e, nos períodos em que o faço, uma garrafa das pequenas dá-me para várias vezes, no mínimo, quatro.
Fiquei, obviamente, encantada, não porque precise de autorização ou fundamento benigno para beber. Aliás, nem tenho por hábito beber (embora por razões dietéticas, pois é sabido que o vinho engorda), e, nos períodos em que o faço, uma garrafa das pequenas dá-me para várias vezes, no mínimo, quatro.
O que mais me empolgou da dita notícia foi pôr-me a imaginar o bom povo português, irmanado numa jubilosa bebedeira colectiva, assomado às janelas a cantar e a bater palmas (alguns a vomitar), mandando o Covid-19 para onde não posso aqui dizer, e já esquecidos do heroísmo dos profissionais de saúde.
Esta visão foi acompanhada pela do minúsculo vírus (e suas milhentas réplicas), a esbracejar e sufocar, num tsunami vinícola, pronto a ir desta para aquela que o pariu.
Foi neste estado delirante que, lá para a uma da tarde – para quê a pressa! –, tomei o pequeno almoço e me apercebi de que algo não estava bem: dores no corpo, falta de forças, garganta a arranhar e nariz entupido.
Adivinharam, perguntei-me logo: será que o cabrão me apanhou? Respondi, de imediato: Ora, ora, isto não passa dum resfriado, afinal ontem apanhei um bocado de frio, quando me sentei à secretária a tratar online de vários assuntos pendentes e a pender. Tem lá calma! Ainda me ocorreu a linha SNS24, mas não me apetecia ficar pendurada, sem atendimento, como me sucedera algum tempo atrás.
Ainda prossegui com as arrumações em curso (nesse aspecto, viva a quarentena, que isto do antigo hábito de andar sempre a saltitar de um lado para o outro, não é consentâneo com a organização do lar, ao menos no grau requerido por uma maníaca da ordem), mas, a dado passo, a falta de forças era muita e decidi regressar ao vale de lençóis. Fui dormitando e acordando, inquieta, parecendo-me que com falta de ar, mas logo respirava fundo e constatava tratar-se de pura partida de algum resquício hipocondríaco mal disciplinado.
Pus-me a ler uma biografia do Maquiavel, que estou prestes a acabar. A seguir não posso deixar de reler o seu (do Maquiavel) magnífico O Príncipe. Espero não me desiludir, visto tratar-se de um dos livros que mais me marcou (por vezes, ocorre a desilusão, ao relermos obras que, em tempos apreciámos, e isso dói, à semelhança de quando perdemos um amigo).
Ah! entretanto, hoje acordei quase totalmente recuperada.
De momento, só posso queixar-me de estar a sofrer de síndrome de privação: acabaram-se-me os chocolates!
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