(MINHA ESTAÇÃO PREFERIDA)
Peço aos meus
olhos que não escutem ruídos externos, perturbadores, não se deixem distrair.
Desligo o
rádio, apago o CD. Conduzo de janelas abertas.
Peço aos meus
olhos que escutem os segredos do vento, cantados às árvores, lá no alto. E a
voz dos pássaros, que se preparam para a despedida. E o tombo macio dos primeiros
pingos de chuva.
Peço aos meus
ouvidos que não se deixem distrair por imagens fúteis, tipo, cartazes de
campanha eleitoral, matrículas doutros carros, coisas assim, inúteis.
Peço-lhes que
fiquem atentos, que dêem atenção à poça de água, fruto da primeira chuva, à primeira castanha a alcançar o chão, ainda envolta no seu manto de
espinhos, à promessa de mudança de cor nas folhas tombadas à beira dos
caminhos, envoltas, já, em seus quentes dourados, castanhos, avermelhados,
amarelos, tons quentes, aconchegantes, aos frutos pendurados na espera da
apanha (sentirão medo, os frutos, quando são colhidos? Que, quando são
trincados, melhor nem pensar!).
Peço aos meus
lábios que sustenham a respiração, aos meus pulmões, que parem de bater, ao meu coração,
que se expanda em larga distensão, colocando à justa distância o diafragma.
Peço aos meus
pensamentos que deixem de sentir e aos meus sentimentos que deixem de se preocupar com o conhecimento e a razão.
Peço ao meu
corpo que se descontraia, que se desprenda das raízes da sua natureza próxima.
Peço-lhe que
se pacifique, que se recolha à plenitude da natureza originária.
À Natureza.
Não é isso a Natureza?
Ah! E não peço nada às minhas mãos, porque já vão a conduzir e a tirar fotografias.
Enfim, peço-lhes isso.
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