sexta-feira, 10 de abril de 2020

40º DIA DAQUILO: SETE DESCOBERTAS E UMA AVENTURA!


Hoje, pela primeira vez no período de confinamento a que o Covid-19 nos remeteu, estou chateada! Tenho uma ideia do motivo e talvez o revele, lá para o fim deste post

Entretanto, e como ninguém – nem mesmo eu – pode ser culpado desse estado, entrego-me ao relato das empolgantes descobertas que a vivência desta situação me tem proporcionado. Sigo, para o efeito, o itinerário das compras, a partir do momento em que entram cá em casa (sobre o processo de aquisição já falei antes).

1 – Os sacos ficam todos no hall de entrada.

1.1. – Em se tratando de produtos que não carecem de conservação no frio e/ou não se destinam a consumo imediato (caso da encomenda da Nespresso), passam para cima de um banco, onde aguardam em quarentena de, pelo menos, cinco dias (se eu posso aguentar, também eles). Só depois seguem para os respectivos locais de arrumação e, mesmo assim, após borrifo de CIF Spray Power&Hygiene antibacteriano (dizem que arrasa com 99,9% dos bichos). 

1.2. – Com os outros, o procedimento é bastante mais complexo e extenuante. Enquanto aguardam nos sacos, preparo uma mistura de lixívia e água (recomendaram-me a proporção de 1/9, mas, como não facilito, vai a 1/6). Começa, então, o processo de desinfecção: um a um – embalagens de pão, iogurtes, queijos, bolachas, chocolates, conservas, carne, gel de banho, detergentes, etc. –, vão sendo passados por um pano embebido da dita mistela e colocados sobre uma bancada da cozinha, previamente lavada com o dito CIF. As frutas e legumes merecem tratamento à parte: mergulhadas em nova combinação da dita mistura, desta feita um pouco menos agressiva, retiradas, passadas por água várias vezes e enxugadas uma a uma. Entretanto, hão de ter decorrido aí umas duas horas, exaspero-me a pensar por que razão ainda não foram inventados comprimidos para substituir a comida e sigo para as próximas etapas:

a) Arrumar os produtos;
b) Mandar os sacos de plástico para o lixo (respectivo, que eu faço reciclagem);
c) Lançar mão da esfregona para limpar o chavascal que ficou na cozinha e no hall de entrada, por força da circulação do pano de desinfecção, produto-a-produto;
d) Carpir o estado em que, depois disto tudo, vai ficar o soalho do dito hall, devido às pingas da mistela que, malgrado o cuidado, acabaram por cair;
e) Antecipar a trabalheira que seguirá para cozinhar os alimentos de tal carentes (tipo, bifes de frango e legumes) e adiar a mesma para as calendas do termo dos respectivos prazos de validade;
f) Soltar um monumental Uff!
g) Ir relaxar para a banheira.

1ª descoberta: Os produtos que usamos no dia-a-dia deixaram de ser nossos amigos. Pior, ganharam vida própria e ameaçam-nos só de serem tocados!

2ª Descoberta: A minha flexibilidade não está nada mal (isto de tirar produtos um a um dos sacos pousados no chão...)!

Sigo para a cozinha.

2 – É sabida a minha inépcia em matéria de cozinhados. Trata-se de uma recusa quase existencial, decorrente, não tanto da dificuldade da tarefa, mas da desproporção entre a trabalheira e o tempo que envolve, e a rapidez com que se lhe esvai o resultado. Assim:

a) Bifes de peru, todos de uma vez: grelhar em frigideira anti-aderente, apenas com um pouco de sal; deixar esfriar; meter em sacos de congelação; abandonar no congelador o maior tempo admissível – recorrendo, entretanto e com observância dos limites do escorbuto, a conservas;
b) Legumes, todos de uma vez: lavagem, descascação (sendo caso disso), corte e disposição harmoniosa em dois tabuleiros, com um pouco de azeite e sal; ligar o forno, por tentativa e erro, acabando por ter de recorrer a terceiros, por vídeo-conferência, a fim de  conseguir decifrar o significado da sinalética dos botões; enfiar os tabuleiros e esperar que o assado resulte; descobrir, ao fim de algum tempo, que o forno não está quente e que uma luz que tudo leva a crer deveria estar acesa, não está; lembrar-se de anterior e longínqua situação semelhante (embora só destinada a aquecer comida comprada feita, para servir a convidados) e ir ver os fusíveis. Bingo! Ligar os fusíveis (ou lá como é que se diz); esperar que vá tudo pelos ares, mas constatar que não; ir fazer outras coisas, vigiando, de vez enquanto, não vá aquilo esturricar, após tão penosa trabalheira; deixar esfriar; meter em tupperwares; abandonar no congelador o maior tempo admissível – recorrendo, entretanto e com observância dos limites do escorbuto, a conservas, tipo Bonduelle, ervilhas e cenouras;
c) Constatar, não sem frustração e revolta, que os legumes mingaram muito;
d) Lavar a louça toda envolvida no processo e o forno;
e) Lançar mão da esfregona para limpar o chavascal que ficou na cozinha, pois, por mais cuidado que se tenha, cai sempre qualquer coisa;
f) Carpir o tempo que se gastou no processo e que poderia ter sido aproveitado a fazer coisas interessantes ou mesmo nada;
g) Relativizar: desta já me livrei;
h) Ir relaxar para a banheira.

3ª descoberta: As minhas 2 facas de cozinha quase só servem para cortar queijo e descascar fruta (seu uso habitual); não sei se compre novas ou mande afiar (se é que se pode).

4ª Descoberta: Perdi a fobia ao forno: afinal, não é assim tão complicado de ligar, mas, caso isto continue, impõe-se mandar ver a questão dos fusíveis.

5ª Descoberta: O exaustor está avariado, provavelmente por falta de uso; também tenho de mandar arranjar.

6ª Descoberta: Os legumes ficaram muito bons!

7ª Descoberta: Os legumes desapareceram num instante! Vivam as caixinhas Bonduelle!

No meio deste universo de descobertas estonteantes, uma


AVENTURA

Consegui estrelar um ovo, sem redundar em ovo mexido (coisa que me acontece quase sempre ao tentar fazer omelete)!

Ah! Só para dizer a razão de estar chateada: de tanta actividade doméstica, sofro, desde ontem, de dores no ombro direito. Logo agora, que não posso parar!!! Bem, e amanhã tenho de regressar aos cozinhados...





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