sábado, 25 de abril de 2020

55º DIA DAQUILO: RED BULL E ALGO MAIS


Breves reflexões sobre modo de vida e outras coisas do confinamento:

1. Confesso-me absolutamente espantada com a minha capacidade de trabalho doméstico. Agora sem empregada e a passar imenso tempo em casa, tenho dedicado bastas horas às limpezas e ainda vou desencantando uns momentos para arrumações/reorganização de... coisas. Em particular:

a) Espanta-me a inusitada energia, que ignoro de onde vem. Desconfio que a Epal anda a misturar Red Bull na água canalizada... 

b) Deprime-me a quantidade de que flutua no ar e daí se lança sobre móveis e soalhos com uma velocidade superior à da disseminação do Covid-19; aliás, hesito em atribuir o 1º lugar de pior praga a um ou a outro (mas talvez seja porque ainda não apanhei este – esperando que assim continue – e, em contrapartida, não paro de apanhar aquele).

c) À força de tanto manusear objectos das lides domésticas – exceptuados os de cozinha que, após breve e trabalhosa incursão, me apressei a ignorar –, começo a ver-me como uma espécie de Eduarda-Mãos-de-Esfregona. Um dia destes, comecei a olhar para as mãos e, em vez de dedos, vislumbrei fitas de esfregona. Cor de rosa!!! Corri para o espelho, a fim de confirmar se era verdade e, já agora, verificar se também me tinha nascido um corno na testa, porque, chegado a sofrer alguma mutação inesperada, talvez preferisse virar unicórnio. Parei a meio caminho, a pensar: será que este estado de espírito pode considerar-se perigoso e sintomático de qualquer coisa má, sei lá...?

d) Para quem diz que o confinamento é mau para o convívio, tenho muita pena de contrariar: pela minha parte, tenho convivido muito mais. Só que é com ácaros! Também conta, não?

2. Talvez o vírus não venha a sofrer significativa mutação – que sei eu, não cientista, quando estes nada parecem saber?! –, mas o mesmo se não aplica à Língua Portuguesa. 

Na verdade, tenho reparado que a ministra da saúde, ao dirigir-se aos jornalistas, começa assim: "Dizer que", em vez de, por exemplo, "Importa dizer que", "Posso dizer-vos que", etc. A moda já se pegou a outros, sendo frequente ouvirem-se frases iniciadas desse modo. Dizer que não me soa bem! Crer que talvez indicie necessidade de rentabilizar o factor tempo. Estar sobre pressão, perdão, estar sob pressão: também tenho ouvido muito aquele sobre, mas esta já conhecia.

3. É só novidades! Não bastava o bicho mau, vindo do morcego, do laboratório de Wuhan ou lá de onde raio veio, agora também apareceu o TNT (no contexto dos materiais usados no fabrico de máscaras)! A princípio pensei tratar-se de um explosivo destinado a neutralizar os perdigotos, mas depois explicaram-me que se trata de tecido não tecido (daí a sigla). Pergunto-me: se não é tecido porque lhe chamam tecido? Só para terem o gosto de especificar que não é tecido? Se é tecido, porque dizem que não é tecido? Ok já percebi o que é, mas não deixa de me parecer palerma chamar-se algo a alguma coisa só para acrescentar que essa coisa não é esse algo. E inventar um nome que não contenha tecido?

4. Agora "a" frase do milhão de dólares (falsos): "Vamos todos ficar bem"! Vamos todos ficar bem quê? Compreendo, não se pode generalizar, porque nem todos vão ficar bem a mesma coisa: bem infectados, bem internados, bem nos cuidados intensivos, bem mortos, bem recuperados, bem-felizmente-ao-lado, bem em lay-off, bem nem em lay-off, bem desempregados, bem empregados, bem casados, bem divorciados, bem mais fracos, bem mais fortes, bem malucos, bem ajuizados, bem assim-assim, bem-etc. Em suma, trata-se de uma frase fraquinha que sofre de incompletude e revela susceptibilidade de enganar lorpas. Já agora, gostava de saber como vai ficar o autor da dita, se é que já não ficou.

Por hoje fico-me por aqui. Embora não possa prometer nada – desde logo porque não sei em que categoria de bem ficarei –, tenciono voltar para vos falar de máscaras e, não menos importante (e na 1ª pessoa), de como o teste do Covid-19 é bem... depois digo.









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