A escuridão abateu-se sobre esta parte do mundo. Os candeeiros públicos desmaiam num amarelo pífio.
Ainda assim, consigo divisar os contornos da casa. Num dos lados brilham dois rectângulos. Já não são quadriculados. A caixilharia de madeira vermelha cedeu lugar a um alumínio castanho, não que agora o possa ver, mas sei, doutras observações, espionagens diversas.
A luz rectangular espreita da saleta, quer dizer, espreitaria da saleta, se.
Vêm-me à ideia lascas finas da madeira, bege amarelada, da parte de dentro. Muitos sóis por ali passaram. No fim, já ameaçavam desmoronar-se em farripas gastas, ressequidas. Como certas vidas, depois de vividas ou não vividas. Sei lá!
A nossa casa já não é a nossa casa.
Era a casa onde morávamos e, agora, é ela que mora em nós.
(A partir de um texto escrito, em 02/12/2016, no Hotel Miracorgo, Vila Real)
O estado de confinamento leva a recordações de outros tempos e neste texto é feita uma viagem nostálgica pela casa da infância,ou melhor pelas recordações de outros tempos. Como sempre aprecio imenso a narrativa.
ResponderEliminarMuito grata pelo comentário!
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