Como podiam ter-se perdido, qual desejo em miragem? Para onde teriam desaparecido, qual água em deserto? Quem as poderia ter levado, que espécie de raptor? Porquê?
As interrogações sucediam-se, frustradas na antecipação da ausência de respostas, como se certezas daninhas na mente de amantes ciumentos.
Só uma era conhecida, o quando. Tinha acabado de acontecer, aliás, vinha acontecendo havia uns tempos, como antes sucedera o contrário, quando começaram a brotar com uma espontaneidade e exuberância que mal se podia crer.
Talvez começar por aí, por saber como se tinha gerado aquele furor criativo, aquela inspiração desmedida, a graça, a acutilância, a espontaneidade e o imparável.
Por aí se chegaria à causa e da causa se partiria para a explicação do fenómeno inverso, aquele indício de despedida, afrouxamento.
Então tudo ficou claro, tinham sido surpreendidas por uma atenção inesperada, estimulante, desafiadora, que, com o tempo e suas circunstâncias, ou melhor, com certas circunstâncias, se foi esboroando à medida da passagem do tempo. Depois insistiram, apesar do esporádico da atenção, do seu esfriamento, tinham-se esforçado por prender aquela atenção, que, outrora, vá-se lá saber porquê, despertaram e se lhes colara. Esgrimiam-se cada vez mais exuberantes e criativas, como quem se veste e pinta, no desejo de conquistar uma atracção perdida. Mas era isso, a atracção tinha-se esvaziado como um balão furado, e elas, embora resistentes, não queriam viver apenas para si próprias - quem quer viver apenas para si próprio? - e não lhes era indiferente o destinatário das suas vidas.
E assim se apagaram, não é, sequer, que tivessem sido levadas, apenas deixaram de ser procuradas. E não era de agora ou de há uns dias, era coisa outra, mais velha no tempo.
Em resumo, aconteceu-lhes como às pessoas que foram amadas, amaram, e deixaram de o ser (por esta ordem), embora tivessem continuado a amar.
Assim aconteceu àquelas palavras, outrora tão invencíveis. Alguém se desinspirou delas e elas, parvas, deixaram-se desinspirar.
Vá-se lá perceber a lógica das palavras, convencidas que têm vida própria, e imitando vidas alheias.
Talvez, se reflectissem um pouco nesta contradição, voltassem a florescer, voltassem a acreditar nelas próprias.
E foi, seguramente, isso o que vai acontecer. Não, e será, seguramente, isso o que aconteceu. Não, e acontecerá...
E foi, seguramente, isso o que vai acontecer. Não, e será, seguramente, isso o que aconteceu. Não, e acontecerá...
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