Algures na bruma das memórias da minha infância, reside um Sr. Alemão, assim, com maiúscula, porque, tanto quanto julgo saber, se tratava dum nome e não duma designação de nacionalidade. E daí, quem sabe? Talvez se tratasse mesmo dum alemão ou, hipótese eventualmente mais acertada, dum português com traços físicos ou de carácter ou, até, comportamentos, próprios dum verdadeiro alemão. Que sei eu, a esta distância e sem a recordação de alguma vez ter conhecido o Sr. Alemão?
Na verdade, trata-se, apenas, duma referência abstracta, que, por qualquer razão, estacionou na camada neuronal semiadormecida dos eventos idos, que permanecem comigo e me visitam de vez em quando, vá-se lá saber porquê ou para quê.
(Talvez para alimentarem um blog resistente, que sobrevive, mesmo sem aparência de leitores - não fossem as estatísticas -, e com muito ocasional feedback - leia-se, comentários escritos, classificações, etc. Estou, até, a pensar mudar-lhe o nome para qualquer coisa como, ladro mas não mordo, a falar pró boneco, amo ler-me, vou ali e já venho, cansei ou outra do género.
Ah! vejo-me forçada a interromper isto, pois, daqui a pouco, tenho de ir acabar um desenho que ando a engonhar há uns tempos. Isto de manter um blog como este dá cá uma trabalheira!
Já fui!
Já voltei e regresso ao Sr. Alemão.)
Pensando bem, creio que ele não se chamava Alemão, era chamado alemão, por revelar algumas idiossincrasias de tal povo, a saber:
a) Cumprimentava os vizinhos com um braço hirto, esticado até à ponta dos dedos e levantado aí pela altura do ombro, efeito conseguido com um sacão ríspido, como se tivesse uma mola na axila, rosnando heil, seguido do nome do cumprimentado, assim tipo:
b) Exibia um bigodinho patético, aliás, meio bigodinho patético, plantado a meio duma carantonha ridícula, mas estava convencido de que era bonito, alto, atlético e de que tinha um brilhante cabelo cor de espiga de milho, enfim, o supra-sumo definitivo duma raça inultrapassável, aliás, inatingível, assim tipo:
c) Sob esse pretexto, mandou construir um forno no quintal, donde se evolava um fumo sinistro, que os vizinhos fingiam não sentir, apesar de bem saberem quem por lá passava e para quê, assim tipo:
d) Era bufo, tal como, muito mais tarde (ontem, exactamente), se havia de revelar um tal de Wolfgang Schauble, ministro das finanças alemão, ao deixar passar que, antes de o governo português ter decidido prescindir da última tranche do empréstimo da troika, já se tinham encontrado e tinha manifestado a sua concordância, como quem diz (para bom entendedor), nós cá, os donos disto, autorizámos os pobres tugas a prescindirem da tranche. Ora, não se faz! Andava o governo português todo ufano e vitorioso, naquela pose toureira tão do agrado do 1º ministro, de somos os maiores, não precisamos dos trocos da troika para nada, o povo já todo num alvoroço, a pensar, estamos ricos, estamos ricos, e vem o desmancha-prazeres do chatinho do alemão lembrar que estamos aqui para cumprir ordens e é só ele querer e lá vamos nós ter de pedir novo empréstimo e etc. e tal. Pior, com a sua atitude de bufo, pôs a claro uma coisa que ninguém sabia (nem desconfiava, calcula-se), ou seja, que o governo português, antes da decisão, foi pedir a opinião dos descendentes dos nazis. Só falta vir anunciar que teve uma reunião com o Paulo Bento antes do jogo das selecções nacionais de ambos os Países, ou melhor, do país Alemanha e da província Portugal.
Isto era a propósito de quê? Ah! já me lembro, do Sr. Alemão das memórias da minha infância...
Nota: Fotos obtidas em pesquisa no Google.
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