sábado, 7 de junho de 2014

E FORAM!


- Certas vezes, por vezes, às vezes, acontece, outras vezes, por vezes, certas vezes, desacontece, embora acontecer e desacontecer não sejam muito diferentes, porque certas vezes, por vezes, às vezes e outras vezes nunca são exactamente as mesmas vezes, então, tudo depende de como se apresentam as vezes, às vezes, por vezes, certas vezes e as outras vezes, ou então não, talvez o cerne da diferença resida no que acontece e o no que desacontece, o que seria o contrário do que já se afirmou - embora acontecer e desacontecer não sejam muito diferentes... -, pondo, assim, em causa, o princípio da irrelevância do acontecido versus o desacontecido. Não te parece?
- Parece-me é que adoras jogar com palavras, ainda que seja para não dizer nada...
- Exacto, não dizer nada é, justamente, um caso de desacontecido, enquanto que jogar com as palavras é um acontecido, estás a ver?
- Não, não estou a ver nada, estou apenas a ouvir uma lengalenga de vazio, o paradigma maior do desacontecido, topas?
- É claro que sim, topo que estás a entrar na onda...
- ???
- Estás aqui estás a perceber o que reside por trás das palavras acontecidas, embora te pareçam ocas ou vazias. Isso deixa-me feliz!
- E o que é isso, deixa-me feliz? Trata-se dum acontecido que ocorre apenas esta vez ou às vezes, por vezes, certas vezes, e não outras vezes, as do desacontecido?
- Fantástico, compreendes-me na perfeição, nem eu a mim próprio me percebo assim, com essa rapidez mental que se segue ao repúdio da aceitação duma ideia nova! Sinto-me cada vez mais feliz!
- Então desinfeliza-te, porque estou farta desta conversa de doidos, desta ladainha de vezes em que acontece e doutras vezes em que não acontece. Afinal, referias-te exactamente a quê?
- Estás a ver, estás farta, mas curiosa, e eu cada vez mais feliz! Olha, não estava a pensar em coisa nenhuma, ao menos aparentemente, mas o certo é que acabo de concluir que as palavras escondem sempre um sentido, suscitam sempre uma curiosidade, permitem ir mais além ou, no limite, expressar um pensamento.
- Onde já vais, voas no pensamento como se as palavras fossem um avião!
- Pois é, as palavras levam-me sempre longe, para dentro ou para fora de mim, embora certas vezes, por vezes, às vezes, possam parecer ocas como um fruto sem caroço e sem polpa...
- E muitas vezes são isso mesmo, carecem de sentido e do suporte do pensamento e é dessas que se diz palavras leva-as o vento, desculpa lá o cliché, mas não consigo inventar o teu tipo de clichés, tão sofisticados, às vezes ..., como é mesmo o raio da lengalenga?
- Lengalenga é giro, mas agora apetecia-me mais um café. Queres vir?
- Vou, se isso não for uma promessa de desacontecido.
- Eu bem sabia que me compreendes. Por vezes ...
- Chiu!
 
 
 
 
 

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