Por vezes, dou comigo a ouvir cada coisa, que nem me atrevo a garantir ter ouvido bem!
Uma das últimas foi que, no âmbito das parcerias público-privadas e, quem diz estas, acrescenta quaisquer outras negociatas do género, o governo terá decidido passar a honrar, apenas, os compromissos legais e contratuais do Estado, entidade sua representada, na medida em que o crescimento da economia e o incremento demográfico, eventualmente, o permitam. Para se perceber bem, é assim uma coisa do tipo, um cidadão assalariado tem uma dívida fiscal, mas anuncia ao governo que, futuramente, só pagará, caso a sua situação económica, calculada, v.g., em função de aumentos salariais superiores a 15%, da identificação definitiva do sexo dos anjos ou do acasalamento das cagarras, devidamente testemunhado pelo presidente da República, o permita.
- Não?
Olha! acabam de me informar que, afinal, o novo paradigma não se aplica ao caso das parcerias público-privadas e outras negociatas do género, mas aos reformados, o que, bem vistas as coisas, já não causa tanta estranheza, quer dizer, talvez não, a ter em devida conta o paradigma corrente.
Também, a culpa é deles, ninguém os mandou andar a descontar, no duro, uma vida inteira de trabalho, aí uns 40 anos - sim, a esses me refiro -, em vez de terem anunciado, unilateralmente, não estarem para aí virados, estarem-se absolutamente nas tintas para a Constituição e demais leis da República ou contratos celebrados ao seu abrigo, e o Governo que de desenvencilhasse como muito bem entendesse, na hora do pagamento das reformas!
Ora, às tantas, também não é bem isto.
Afinal, pareceu-me ouvir que os reformados, quer dizer, os sobreviventes dessa espécie, fartos do bullying terrorista do governo, decidiram, em bloco:
- Processar, financeira, civil e criminalmente, o Estado, pelas sucessivas e descaradamente ilegais subtracções dos seus rendimentos;
- Deixar de pagar impostos, na pendência dos processos, e até completa e retroactiva reposição dos seus direitos, acompanhada de exemplar punição dos membros do governo e demais farsolas responsáveis pela situação, incluídos os, entretanto, emigrados para o FMI e instituições congéneres;
- Em demonstração do facto de não serem movidos por maus sentimentos, mas apenas pelo mais elementar sentido de justiça, convidar esses membros do governo e demais farsolas, para um piquenicão, a efectuar numa das magníficas pontes que sobrevoam o Tejo, de Lisboa à Margem-Sul; como reconhecimento especial pela virilidade irrevogavelmente assumida na defesa do cisma grisalho, levar o vice-primeiro ministro a passear numa qualquer feira ou mercado, podendo, até, ser o de Campo de Ourique, visto estar na moda e o efeito previsível ser idêntico;
- Embora com muito desgosto, deixar de ajudar os familiares desempregados ou mal pagos, como medida incentivadora a que façam qualquer coisa pela vida, por exemplo, a tomada de atitudes cívicas destinadas a mudar situações indesejadas ou, então, que parem de fazer queixinhas e de exigir sustento aos velhos e, calhando, lhes darem porrada, como, por vezes se ouve nas notícias; querem pedir dinheiro, querem descarregar a raiva, vão para os lados de Belém e S. Bento e deixem os velhos em paz;
- Fazer uma lista exaustiva de todos os boys e girls que pululam pelos milhentos gabinetes e outros sítios do Estado, e reconduzi-los ao mercado de trabalho normal ou, em alternativa, passar-lhes um visto gold de emigração;
- Infernizar a vida de tudo quanto é órgão de poder, até obterem a aprovação duma lei que determine a redução do número de deputados e demais titulares de cargos políticos e públicos, em função do estado da economia e da demografia nacionais, bem como a adaptação dos respectivos salários, frotas automóveis e outras (cartões de crédito, telemóveis, Ipads, PCs, etc.), por referência aos mesmos critérios;
- Idem, no tocante à concretização da reforma do Estado, em geral, e da Justiça, em particular;
- Formar um Banco -talvez, BCG, Banco do Cisma Grisalho -, não se vá dar o caso, improvável, das restantes iniciativas fracassarem.
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