Não sei que mal te fiz, sinceramente, não sei. Dum momento para o outro desapareceste-me da vista, nem sequer aquela cena clássica, vou ali comprar tabaco e já venho..., clássica e desactualizada, já não se usa fumar, não é cool. Só percebi quando dei pela tua falta, nem isso, foi através do advogado que foi lá a casa entregar-me os papéis, que papéis, perguntei. E ele, tipo rufia empedernido, profissional de vão de escada, está-se mesmo a ver, dar-se ao trabalho de se deslocar lá a casa, feito estafeta, os papéis do divórcio, aqui tem, é só assinar. E eu, de abrir os olhos, a sentir-me inutilmente incomodada, é engano, só pode, mas não, saltaram as identificações, os selos de conformidade, e era mesmo comigo, sua excelência o S.deH. tinha-me enviado um mandarete foleiro com aquela notícia de divórcio súbito e unilateral, toma lá, ficas a saber, assina e o assunto acaba aqui. Ora - continuo a dizer - ignoro que mal lhe tinha feito, e, de resto, ainda estou para saber. Não é que o tipo invocou diferenças irreconciliáveis, armado em estrela de Hollywood! Vai-se à procura de concretização e nada, não percebi rigorosamente nada do que seriam as tais diferenças, aliás, já estávamos juntos há bastante tempo e creio poder dizer que nos dávamos bem.
Desatei a pensar, dei voltas à cabeça, mas o facto é que ele me fazia imensa falta para colocar as ideias em ordem, senti-me tipo de luto, sofria-lhe tanto a falta! Ainda assim, continuei a pensar - aleluia, resta-me a determinação e meia dúzia de neurónios! - e cheguei às seguintes conclusões, a) a nossa relação até era muito íntima, tão íntima que, as mais das vezes, ninguém conseguia entender, era preciso explicar, mas na explicação perdia-se a graça, b) abusei um bocado dele, quer dizer, servi-me dele como duma arma de defesa, dava-me imenso jeito e ele parecia não se incomodar, até se mostrava contente pelo uso ou abuso, questão de se saber reconhecido e bem empregue. Não me pareceu que qualquer destas consubstanciasse diferença irreconciliável. Concluí, então, c) fartou-se de me aturar. Aí fiquei magoada, confesso, mas assinei os papéis do divórcio, por deferência para com o S.deH., o meu.
Agora não se pense que vou ficar de braços cruzados à espera que volte, não, não. Publico este anúncio, com a promessa dum prémio para quem o encontrar e mo devolver, embora creia que, mesmo antes disso, ele voltará, afoito, pelo seu pé, e, só por ser quem é, recebo-o de volta, de braços abertos e sorriso largo.
Faz-me tanta falta, o meu Sentido de Humor! Só por ser quem é!
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